Brasil 4D comprova uso da interatividade na TV durante Fórum

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Os resultados da 1ª experiência de interatividade na TV pública, aberta e digital brasileira com público de baixa renda foram apresentados em evento da EBC

 

O Brasil conheceu durante o 4º Fórum Internacional de Mídias Públicas, realizado pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), em Brasília, os resultados da primeira experiência de interatividade na TV pública, aberta e digital brasileira com público de baixa renda: o projeto piloto Brasil 4D, realizado por iniciativa da própria EBC, em parceria com o Banco Mundial e a participação voluntária da Universidade Federal da Paraíba, Universidade Católica de Brasília, Universidade Federal de Santa Catarina, e as empresas Harris, D-Link, Totvs, MecTronica, Spinner, Ebcom, Intacto, Oi e Ei-TV!

 

O projeto piloto Brasil 4D foi iniciado em dezembro do ano passado. Através de um Canal de Serviços, 61.3, exibido pela TV Câmara de João Pessoa, exclusivamente para as 100 famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família em três comunidades de baixa renda da capital paraibana, foram transmitidos vídeos interativos produzidos pela TV UFPB, Universidade Católica de Brasília, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Banco do Brasil.

A OI foi a responsável pela instalação da tecnologia 3G – que permitiu o canal de retorno.

 

As aplicações, que permitiram aos telespectadores interagirem com a programação do Canal de Serviços, foram desenvolvidas usando os perfis B+ e C do Ginga, o middleware do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre, que ainda não estão completamente desenvolvidos, tampouco são normas da ABNT, mas são de interesse de algumas das empresas participantes, e à indústria de recepção, em um cenário de integração broadband/broadcast. “Tivemos que descobrir toda uma linguagem interativa que fosse acessível para a população”, disse o coordenador-geral do projeto e superintendente de suporte da EBC, André Barbosa.

 

Dos quatro vídeos com aplicações interativas exibidos pelo Canal de Serviços da EBC, através da TV Câmara de João Pessoa, 61.3, o que registrou o maior número de acessos foi o aplicativo desenvolvido na UFPB, pelo Lavid/TV UFPB, com 419 acessos pelas 100 famílias. Esse aplicativo trata de vagas de cursos e empregos.

 

O segundo aplicativo mais visto foi o de benefícios sociais (cadastro único), desenvolvido pela UFSC, com 210 acessos. E o terceiro, o aplicativo desenvolvido pela Universidade Católica de Brasília, que abordava serviços de saúde do Governo Federal (aleitamento materno, vacinação, programa Bolsa Família) com 168 acessos. O aplicativo com menor número de acessos (apenas 135) foi o do Banco do Brasil, sobre planejamento financeiro pessoal. De todos, o único com interface totalmente textual.

 

De modo geral, as famílias não tiveram dificuldade em interagir com a nova tecnologia. Estão abertos às novidades e ficaram interessadas ao saber que poderiam, sem sair de casa, usando a TV, através do recurso de interatividade, obter informações sobre as vagas de emprego disponíveis no Sine de João Pessoa, como também sobre as vagas em cursos oferecidos pelo Pronatec.

 

“Temos relatos de pessoas do Bolsa Família que, após assistirem ao Canal de Serviços, buscaram empregos e os cursos anunciados, semanalmente, na tela do Canal de Serviços”, conta Madrilena Feitosa, pesquisadora do Núcleo Lavid.

 

“Fazíamos atualização constante dessas informações essenciais. Há relatos de mulheres que procuraram os serviços de saúde para fazerem o exame de mamografia e buscar outros serviços gratuitos de saúde, depois de verem os vídeos interativos com informações sobre prevenção à saúde”, contra Madrilena, ressaltando que através do mesmo aplicativo a família podia saber a localização da farmácia popular mais próxima do bairro, apenas digitando o CEP do bairro, via controle remoto.

 

 “Sabemos que o público do Bolsa Família tem muito baixa escolaridade. Há analfabetos funcionais. Então pensamos em uma usabilidade que permitisse a todos participarem em condições de igualdade, e foi o que ocorreu”, completa a pesquisadora.

 

Segundo a professora da Universidade Católica de Brasília (UCB), Cosette Espindola de Castro, os testes mostraram que, após a ambientação com o sistema, as pessoas passaram a otimizar recursos com as informações disponíveis sobre os serviços.

 

“Um exemplo foi o caso da oferta de emprego. Com a interatividade, as pessoas recebiam informações atualizadas semanalmente e não saiam de casa desnecessariamente para buscar emprego, evitando gastar dinheiro com transporte e comida” disse Cosette, que participou de um estudo para avaliar os impactos do projeto. De acordo com o levantamento apresentado hoje, 64% das famílias disseram que o uso da interatividade reduziu despesas para conseguir uma informação a respeito de oferta de emprego ou obtenção de documentos.

 

Viabilidade

Na opinião do gerente de Relações Externas para a América Latina e o Caribe do Banco Mundial, Sergio Jellinek, o Projeto Brasil 4D é uma referência em inclusão digital e deve ser levado a outros países. “Estamos falando de setores que não tinham entrado no século 21. Avaliamos que a experiência pode ser replicada no Brasil e em outros países da América Latina”, disse ele.

 

O Banco Mundial financiou um estudo sobre o impacto socioeconômico da iniciativa. E tem a intenção de replicá-la, agora, em oito (8) países do mundo que adotaram o sistema ISDB, iniciando por quatro (4) países da América Latina: Uruguai, Peru, Equador e Costa Rica. Logo em seguida será a vez do Paraguai, Bolívia, Chile e, no continente africano, Botswana.

 

Um dos consultores do Banco Mundial, Rodrigo Abdalla, também pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), entrevistou 89 pessoas em 77 residências das cem que participam do projeto. Dentre os dados que chamaram a atenção está o de que dois terços dos entrevistados declararam que tiveram ganhos econômicos a partir da TV digital. “As famílias detectaram benefícios e redução de despesas, especialmente por obter informações do governo que antes demandariam um deslocamento e gastos com transporte”, pontuou Rodrigo.

 

A antropóloga Luciana Chianca, pesquisadora do Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital da Universidade Federal da Paraíba (Lavid/UFPB), conduziu a pesquisa sobre os efeitos socioculturais do projeto. Foram 92 casas visitadas e 86 questionários aplicados. Entre os pontos positivos apontados pelas pessoas entrevistadas está as orientações de como elaborar um currículo – presentes no programa de cursos e empregos. A pesquisa também identificou desafios e pontos a melhorar nas próximas etapas do projeto, como a necessidade de ampliação dos conteúdos digitais oferecidos às pessoas. “A inclusão social talvez seja o aspecto mais importante desse projeto”, afirmou o superintendente de Suporte e Operações, André Barbosa Filho. André lembrou que o Brasil tem uma cobertura televisiva de 98% das residências brasileiras. “Deixar a TV de lado, mesmo com as novas tecnologias, não é interessante para as populações de baixa renda.”

 

Continuidade

No Brasil, segundo André Barbosa, novas metas estão sendo traçadas para ampliar o nosso conhecimento sobre as técnicas de produção de conteúdos interativos e sua disseminação em provas a serem realizadas em uma grande capital brasileira. “Será outro experimental, já que não existe ainda na legislação brasileira uma garantia de que a interatividade é um serviço de radiodifusão. Essa é uma questão que me parece fundamental”, explica André Barbosa. “Mas será bem mais amplo que o de João Pessoa, com um número bem maior de conversores, envolvendo novos parceiros, onde teremos a oportunidade de corrigir os erros cometidos e as falhas encontradas no projeto de João Pessoa”, completa. Segundo ele, uma questão fundamental, não testada em João Pessoa, e que deve ser testada nessa nova capital, é o uso de celulares 1seg.

 

Desafios

Na opinião de André, projetos como o Brasil 4D são importantes porque “muita coisa que é dita e tida como verdade, muitas vezes quando você vai a campo e testa gera respostas diferentes, provoca o surgimento de soluções”.  Até o Brasil 4D, ainda não havia sido testada, em campo, a transmissão de dois sinais HD em um mesmo canal de 6MHz, junto com 1seg e com dados, uma das características da multiprogramação. E a resposta foi positiva.

 

Da mesma forma, foi a primeira vez que se transmitiu, pelo ar, aplicativos interativos com audiovisual. “Hoje, a nosso pedido, a Totvs já desenvolveu a correção/atualização de vídeo pelo ar”, afirma André. “Até então nós só tínhamos a possibilidade de atualização do texto”.

 

Há grandes desafios ainda pela frente. Um deles é a questão da necessidade do uso de antenas externas para garantir a qualidade da transmissão. O sinal digital da Globo, por exemplo, assim como o da Record, não pegavam tão bem nos bairros de João Pessoa que receberam a experiência. Em várias casas D e E os pesquisadores viram a TV paga chegando. No caso, a Claro TV. E sempre para poder ter o acesso ao sinal da Rede Globo.

 

A necessidade de convergência do broadband com o broadcast ficou evidente. Não por acaso, o Minicom anunciou recentemente a criação de um grupo de trabalho com a ABTA e o Fórum SBTVD, para inclusão do Ginga nos conversores de TV paga. Há alguns anos atrás, uma iniciativa semelhante não foi adiante. Será que agora…?

 

E na Paraíba?

O projeto em João Pessoa também vai continuar. Mas nessa segunda etapa, com o apoio da TV Câmara Federal, voltado para a população de classe A e B, com u aplicativo mais sofisticado, para acompanhamento da atuação dos parlamentares. A multiprogramação incluirá o sinal da TV Câmara Federal, a TV Câmara de João Pessoa e o canal de serviços.

 

Reconhecimento*

No mês de agosto, o projeto Brasil 4D colheu os frutos do pioneirismo recebeu o Prêmio SET 2013, da Sociedade Brasileira de Engenharia de TV (SET), na categoria “Melhor solução de interatividade desenvolvida para a TV digital terrestre baseada em Ginga”. E menção especial, em Nova York, durante o prêmio Inovação e Criatividade em TV 2013 http://www.premiotv.com/, promovido pela emissora La Cumbre TV Abierta.

Fonte: 
Agência de Notícias da UFPB - Com informações da TV Brasil
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