Doutor Rodrigo Leone faz palestra no CT e dá dicas sobre finanças pessoais

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A Assessoria de Extensão do Centro de Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba (CT/UFPB), Campus I, promoveu neste mês o evento “Boas vindas aos participantes do PROBEX 2017”. A realização compreendeu um ciclo de palestras abordando questões financeiras, a evolução das atividades extensionistas na UFPB e também foi mostrado um caso de sucesso na extensão do CT.

 

Um dos palestrantes foi o doutor Rodrigo José Guerra Leone, professor do Programa de Pós-Graduação em Administração (Mestrado e Doutorado) da Universidade Potiguar (UNP) em Natal – RN, onde ministra as disciplinas de Métodos Quantitativos e Finanças Corporativas.

 

Ele participou desse ciclo de palestras contando parte de sua experiência como consultor financeiro e dando dicas aos alunos bolsistas a manusear corretamente o dinheiro que eles recebem do projeto.

 

Em entrevista a Ítalo Ramon,  estudante de jornalismo, o doutor Rodrigo Leone deu mais dicas de como se deve manusear o dinheiro, independente de profissão ou idade.

 

A Educação financeira deve iniciar desde cedo, com os pais ajudando o desenvolver do jovem em casa ou deve-se esperar o primeiro salário para que comece esse processo?

 

Um adolescente que recebe o primeiro salário ou a primeira bolsa e gasta tudo, a culpa não é dele, a culpa é dos pais dele e da nossa sociedade que não tem o hábito de dar uma educação financeira. O jovem que gasta tudo que ganha ele viu nos pais a mesma ação, de pessoas que gastam tudo sem controle, sem planejamento, sem responsabilidade. É importantíssimo que nós tenhamos uma educação financeira desde pequenos, tem gente que trabalha essa educação com crianças de três anos de idade. Mas além de trabalhar a educação financeira com as crianças, é importante que ela veja nos seus pais, as atitudes legais, responsáveis e conscientes do uso do dinheiro.

 

No caso de evitar um “não” ou um “depois” à criança, se ela acaba crescendo mimada pelos pais, é propenso que no futuro ela tenha o mesmo comportamento com os filhos ou que a vida ensine que deve ser mudado este tipo de atitude?

 

A vida acaba tentando ensinar, dar as “pancadas”, mas é mais fácil que apesar das pancadas a pessoa continue fazendo errado, porque não foi educada assim (agir da maneira correta) e vai passar esse exemplo errado aos seus filhos e isso vai se perpetuar, suas atitudes vão refletir nas dos seus filhos, que vão passar para os seus netos. Você vai sobreviver financeiramente, não vai ter perspectiva de mudança, mas vai vivendo um dia após o outro como se fosse um animal irracional, sem pensar em prosperar. A ideia é que tenhamos planejamento e controle com o objetivo de prosperar, até podemos levar pancadas, mas de variáveis externas, que estão fora do nosso controle. Eu vou planejar, prosperar, meus filhos vão me ver como exemplo e vão se educar pelo exemplo, muito mais do que uma educação formal, uma educação financeira.

 

Uma parte interessante da palestra foi a do consumismo, onde o individuo não tem interesse em comprar nada, mas se ele vê algum objeto nas mãos de um amigo ou de um famoso, cria-se esse interesse. Qual dos dois afeta mais, a inveja de ter a mesma coisa que um amigo (e muitas vezes para se inserir num grupo social) ou de ver em um famoso e pelo fato de admirá-lo, querer ser “igual” a ele?

 

Apesar de que os dois vão contra a gente, mas a minha percepção é de que os mais próximos influenciam mais. Você pode até querer ser igual ao seu ídolo, querer usar o que ele tem, mas se não conseguir, ele não vai saber que eu estou usando. Mas meus amigos, eu vejo os tênis, relógios, carros, camisas, são mais próximos e eu vou me sentir mais rejeitado se não estiver presente nesse meio do que a questão do ídolo. A parte de querer tomar decisões contra o consumismo é difícil, pois são todos contra a gente. Por exemplo, o mercado (marketing, propaganda) está contra a gente; a internet (marketing digital) está contra a gente, temos um bombardeio de publicidade e propaganda presente no Google, Facebook; o governo me ensina a gastar sem me dar uma educação financeira, ele me financia crédito para eu poder gastar e consumir, ele tem uma política financeira voltada ao consumo e não financia investimento; e também nossos amigos, querendo que a gente gaste, comprando coisas que não precisam e me influenciando a comprar as mesmas coisas. Então é você sozinho contra o mundo, se você não mantiver o foco e não planejar, você nunca vai conseguir prosperar.

 

Na vida de um adolescente que não recebe muito, mas não chega a gastar tanto, quanto é necessário para guardar e planejar uma viagem ou comprar algo caro?

 

É importante que a gente comece a reservar, mesmo que seja minimamente, mas se eu reservar, eu estou supondo que eu não estou gastando mais do que eu tenho. Se eu reservo 1%, é melhor do que gastar mais do que eu tenho. 1%, 2%, 10%, 20%, vai depender do que você realmente quer e do que você precisa. Então o adolescente ganha pouco, mas ele não gasta quase nada pois é os pais que pagam todas as contas; e aí só sobra para ele: o lazer (festa, cinema, shopping) e os desejos pessoais dele. O lazer não pode consumir todo o seu dinheiro, você tem que controlar para que ele consuma 50% e os outros 50% você possa guardar. Agora se você é um adolescente que não mora mais com os pais, ganha pouco, tem filho, eu não posso querer que ele gaste só metade do que ele recebe, depende de cada caso.

 

E no caso da bolsa, a gente sabe que não é muito, mas querendo ou não já é uma ajuda, como ele tem que fazer para administrar as novas responsabilidades que a idade e até a universidade impõe?

 

Tudo depende do seu propósito. Para alcançar os meus objetivos eu preciso fazer uma conta ao contrário. Se eu quero fazer uma viagem e nela eu quero gastar 2000 reais (eu ganho todo mês 500 reais de bolsa) é preciso juntar 100 reais por mês para que daqui a 20 meses eu possa gastar o que eu planejei. Pra conseguir juntar os 100 reais, eu tenho que fazer todas as minhas despesas caber em 80% do meu salário e se não couber eu tenho que fazer escolhas pra não extrapolar meu limite. Se eu saio todo fim de semana, saio um sim e outro não. Eu tenho que fazer meus gastos se enquadrar no resto do meu salário, porque eu sei que tenho que ter 100 reais todo mês para alcançar meus objetivos, pois se eu não tenho objetivos, eu não vou ter nenhuma motivação pra guardar esses 100 reais.

 

A definição para uma boa educação financeira de um universitário seria responsabilidade e planejamento?

 

Exatamente. Mas tem que entender que planejar é você sair de onde você está para alcançar seus objetivos. Planejar é ter seus objetivos e saber como você vai chegar lá e nesse caminho é necessário que você tenha responsabilidade e disciplina para manter o foco, para manter o que foi planejado e não desviar do que foi planejado.

 

Quais os fatores que indicam na vida de uma pessoa que ela está gastando mais do que recebe ou que está gastando indevidamente? E como ela deve fazer para repensar os gastos dela?

 

Os fatores que nos levam ao endividamento são o consumismo, materialismo e imediatismo. Eu sei que eu estou mal quando eu estou devendo ao banco, quando tenho um monte de empréstimo, quando não tenho crédito, quando falta dinheiro todo mês, saldo negativo, quando peço cheque especial. Não basta apenas querer mudar, tem que saber mudar e colocar em prática esse querer. Eu vou ter que me sacrificar, cortar os meus gastos supérfluos, os que me dão prazer e qualidade de vida, para poder recuperar meu padrão de vida e assim manter esse padrão sem me meter na encrenca do endividamento.

 

O que você indica: cortar os gastos de uma vez ou cortar aos poucos?

 

Depende do grau, eu acho melhor cortar de uma vez só. Eu tenho a ideia de que uma alta dose de um remédio pode matar o paciente, mas também doses muito pequenas podem não fazer o efeito nenhum. Eu prefiro correr esse risco para que haja uma melhoria na vida dessa pessoa.

Fonte: 
Agência de Notícias da UFPB - Com Assessoria
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