Ex-aluna da UFPB realiza observação inédita de colisão de estrelas de nêutron

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Ana Carolina Costa Lourenço estava no lugar certo e na hora certa para realizar a observação inédita e mais completa da colisão de estrelas de nêutrons. A façanha, anunciada recentemente, ocorreu nos dias 17 e 18 de agosto deste ano, no Observatório Interamericano de Cerro Tololo, localizado no Vale de Elqui, Chile, a 2.200m de altitude.

 

Lá, a ex-aluna de licenciatura em Física da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) operava detectores de ondas gravitacionais quando o fenômeno cataclísmico aconteceu. “Fui eu quem apertou o botão para registrar, de modo raro, esse evento astronômico”, orgulha-se Ana Carolina, hoje mestranda em astrofísica extragalática na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisadora do Observatório do Valongo, unidade acadêmica da instituição.

 

Ela e outros astrônomos ao redor do mundo observaram um dos fenômenos mais raros e violentos do universo, que é o choque das menores e mais densas estrelas de que se tem conhecimento e que resulta na formação de elementos químicos, como metais preciosos (ouro, platina, prata, urânio). A colisão libera grande quantidade de energia, ocasionando ondas gravitacionais no universo, o que confirma teoria de Albert Einstein.

 

 

O registro

 

Ana Carolina não estava em Cerro Tololo por acaso. Orientada pelo astrofísico Paulo Lopes, que está na França a estudo, e na companhia da colaboradora Florence Durrett, foi para o Chile para observar seu objeto de pesquisa: o aglomerado de galáxias. Isso é possível através de acordos entre o Brasil e outros países. A estudante havia recebido a concessão de tempo referente a duas noites seguidas, das 20 às 2h. Outra concessão era de responsabilidade de equipe da organização Dark Energy Survey, formada por cientistas de várias nacionalidades.

 

A acadêmica paraibana estava na sala de controle, verificando o espaço através de uma Dark Energy Camera (câmera para Energia Escura, em tradução livre) e do telescópio Blanco, um dos poucos de tecnologia de ponta que podem ser manuseados hoje, quando recebeu uma ligação dos Estados Unidos. Cerca de 60 observatórios de todo mundo receberam o mesmo alerta.

 

“Apesar de ficar no Chile, o observatório é norte-americano. O diretor de lá telefonou para ficarmos em alerta sobre o fenômeno porque tinham percebido ondas gravitacionais que indicavam a possibilidade da ocorrência. Coincidentemente, o Chile seria um dos primeiros lugares do mundo do qual a colisão poderia ser observada. Acompanhei tudo do início ao fim e ainda trabalhei no meu projeto nos dois dias de observação”, relatou a pesquisadora. Outras coincidências foram que o fenômeno ocorreu exatamente nos horários concedidos para Ana Carolina e as duas noites concedidas foram de céu sem nuvens.

 

Até então, só buracos negros tinham sido observados. “Mas buracos negros não emitem luz. Estrelas de nêutron, sim. Daí a importância do registro”, explicou. Em 1916, Einstein previu a existência de ondas gravitacionais como parte de sua Teoria Geral da Relatividade. No ano passado, um grupo de cientistas de vários países anunciou ter conseguido detectar pela primeira vez as chamadas ondas gravitacionais, Agora, a partir da colisão, foi possível registrar o evento.

 

 

Início da carreira

 

Foi na UFPB que tudo começou. Entre 2007 e 2011, Ana Carolina concluiu o curso de licenciatura em Física e, logo em seguida, começou o Bacharelado na mesma área. Apesar de não ter concluído a segunda graduação, porque preferiu iniciar o curso de Mestrado na UFRJ, foi nesse período que participou do Programa Ciência Sem Fronteiras e teve a oportunidade de estudar em uma universidade de Winnipeg, no Canadá.

 

“Na época, só tinha graduação em Astronomia na Região Sudeste. Então, fiz vestibular para Física em João Pessoa", contou. "Durante o curso, um professor, que hoje é aposentado, levava um telescópio para as aulas. Os eventos promovidos pela Associação Paraibana de Astronomia também foram essenciais para a minha formação. Mas foi no Canadá que realmente estudei Astronomia. Cursei várias disciplinas sobre o assunto. Vi a Aurora Boreal. Comecei a pesquisar galáxias. Lá tinha um observatório”.

Fonte: 
ACS | Pedro Paz. Fotografias: arquivo pessoal de Ana Carolina.
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