____________ Jader ____________

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Já posso escrever um pouco sobre ele sem receio de transgredir qualquer dispositivo ético no espaço jornalístico que me cabe. Termina hoje o Reitorado Jader Nunes na UFPB. Acabou, desde a sexta, a relação institucional que este colunista mantinha com o homem que dá título e sentido à coluna de hoje.

 

Servidor público com exercício e lotação na Universidade Federal da Paraíba, tive a honra de servir à Instituição durante os oito anos do Reitorado como Assessor de

Comunicação Social. Foi um privilégio trabalhar por tanto tempo assim ao lado de alguém da integridade, do caráter e da competência de Jader Nunes.

 

A experiência do ponto de vista profissional foi única, riquíssima, verdadeiramente engrandecedora, sobretudo porque nesse período a UFPB adotou uma política de comunicação marcada pela absoluta correção e verdade na interação com a comunidade universitária e a sociedade.

 

Graças a essa opção, a Reitoria de Jader Nunes jamais cedeu à tentação – ou às sugestões – para construir uma imagem para a UFPB. Promover o seu dirigente, então, sequer foi admitido como hipótese. Publicidade? Só a legal ou aquela estritamente institucional. Propaganda? Nem pensar. Divulgação? Sim. Informação? Tudo.

 

É a razão de Jader encerrar a sua gestão sem adjetivos pomposos colados à sua pessoa. Não fez praça nem oba-oba. Não plantou elogios à sua performance, atitudes ou iniciativas. Não alimentou vaidades nem mesquinharias. Não cooptou nem pressionou.

 

Quando acusado, só recorreu ao sagrado direito de se defender e algumas vezes isso lhe foi negado. Quando injuriado, exerceu o direito igualmente sagrado de buscar reparações dentro do que lhe permite o Estado Democrático de Direito.

 

A diretriz, válida tanto para o Reitor como para a UFPB sob sua direção, fundou-se na compreensão de que uma Universidade Pública vale por sua qualidade intrínseca, por sua relevância acadêmica. É assim que ela justifica a sua existência, fortalece o seu caráter estatal e faz jus ao dinheiro que a sociedade nela investe.  

 

Uma Universidade Pública, tanto quanto qualquer outro patrimônio coletivo ou serviço ao público, jamais deveria servir à produção das fantasias e enganações em que são torrados bilhões de recursos públicos, como essas a que assistimos em outras instâncias de poder.

 

Uma Universidade Pública, com mais razão em um Estado pobre e de tão extremadas carências como o nosso, onde a taxa de indigência supera a casa dos 60% da população, não pode pensar um segundo em gastar um único centavo para parecer mais do que é ou pode ser.

 

Todos os seus recursos humanos e materiais têm que se concentrar naquilo que realmente importa, naquilo que se espera de uma Universidade Pública como a UFPB. Ela tem a obrigação de exercer com eficácia o seu insubstituível papel de centro produtor de conhecimento.

 

E não basta gerar ciência nova, melhorar a estabelecida ou inovar a tecnologia. Tem que colocar o resultado disso a serviço das alternativas e soluções para a maioria sofrida. E isso a UFPB procurou fazer nos anos Jader. Graças, evidentemente, à dedicação, ao talento e inteligência da grande maioria de seus professores, técnicos e alunos.

 

Mas o Reitorado foi fundamental nessa busca, nessa trajetória. Deu à comunidade acadêmica o suporte possível e até o que diziam ser inatingível. Tanto que a Universidade cresceu. Todos os indicadores acadêmicos apontam nessa direção. Podem pegar, conferir e revirar.

 

A UFPB cresceu e melhorou, apesar do desmembramento que resultou na Federal de Campina Grande. A UFPB melhorou e cresceu, apesar das severas restrições financeiras e orçamentárias, expressivas do ainda crônico descompromisso do governo com a boa educação superior pública e gratuita.

 

A UFPB cresceu, melhorou e ficou mais forte, mais organizada, mais estruturada, mais moderna, mais equipada. Apesar das greves, dos embates internos, das incompreensões e, por vezes, da intolerância entre iguais. Ou da recusa intelectualmente desleal, de alguns, em reconhecer avanços e conquistas.

 

Restaram problemas? Muitos, enormes, aterradores. Mas eles funcionam, como sempre funcionaram, feito combustível da criatividade e inteligência que superam as crises, qualquer crise.

 

Jader Nunes entrega a Rômulo Polari, hoje, uma Universidade com mais cursos, mais alunos, mais pesquisas, mais programas de extensão, mais serviços e até mais dinheiro. O orçamento de custeio da Instituição deve ser reajustado em 60%, por baixo, quando 2005 chegar.

 

Isso não é coisa que cai do céu. Tem a ver com projetos, gestões e passos adequados pelos caminhos certos. Melhor ficaria, talvez, uma referência aos gabinetes certos. Por que não? É trabalho de chegar junto. Junto ao Mec, junto ao governo, junto ao Congresso Nacional.

 

Jader conhece hoje como poucos esses caminhos, porque percorreu com êxito a trilha que o levou a ser uma liderança também no plano nacional. O Reitor da Paraíba afirmou-se entre seus pares na atuação dentro da Andifes, através da Andifes, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior.  Jader passa para Rômulo Polari uma Universidade onde as coisas funcionam em contínuo acréscimo de qualidade. Contribui fortemente para tanto uma lenta, gradual e irreversível reposição de um quadro de pessoal abalado e desfalcado por tantas aposentadorias nos últimos anos.

 

Essa reconstituição também tem a ver com Jader, com a sua obstinada defesa da autonomia universitária, que passa pela recuperação da capacidade que uma universidade pública deve ter de selecionar seus próprios quadros, sem submissão a portarias ou humores ministeriais. Isso deve virar realidade em futuro próximo.

 

A UFPB tentou ser melhor – e conseguiu ser – nesses oito anos. Porque melhorou o ensino que ministra e a qualidade da força de trabalho que forma. Porque aprofundou a inserção social de suas pesquisas. Porque institucionalizou a sua extensão com políticas inclusivas para favorecer os excluídos de tudo ou quase tudo.

 

A UFPB vai atingir meio século de existência no próximo ano. O Estado inteiro deve comemorar. A Universidade Federal é uma das melhores coisas que Deus botou na

Paraíba, além de seu povo.

 

Nessa história de 50 anos, esse mesmo povo aprendeu que reitor deve ser tratado como Magnífico. Protocolarmente, todos carregam o título, mas poucos o merecem. Jader Nunes de Oliveira tem lugar de destaque na reduzida galeria dos merecedores.

 

Texto de Rubens Nóbrega publicado em 27/11/2004 no Jornal Correio da Paraíba

Fonte: 
Agência de Notícias da UFPB