Para pesquisador, cultura africana propicia comunhão com a natureza

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O pesquisador da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) Luís Tomás Domingos sustentou que a cultura africana propicia a comunhão com a natureza, em palestra na tarde da última quarta-feira (07), na Conferência da Terra, no campus I da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa.

 

“A cultura africana pode nos ajudar a conceber e viver as relações do homem com a natureza para que não sejam puramente relações técnicas, mas estéticas; não relações do homem conquistador da natureza; mas, sim, relações de respeito recíproco, de participação e de complementaridade. E esta forma de relação íntima tem como finalidade realizar e manter um equilíbrio harmonioso entre homem e o universo.”, explica. Na imagem acima, registro do professor no evento.

 

Segundo o especialista, a Terra, para os africanos, antes de ser o espaço do qual o homem se apropria, é uma entidade espiritual na qual ele se encontra; é o lugar vital que possui o homem, que nasceu da terra, e a ela retorna na morte. Nesse sentido, a relação entre o homem e a terra está no plano cosmológico, é como a ligação entre uma criança e seus genitores biológicos.

 

“Um dos sentidos profundos dos africanos é fazer da natureza um espaço de residência humana e de cultura, para viver de maneira durável, harmoniosa e em equilíbrio. E é deste modo que o homem africano, dito tradicional, age, centrando todos os seus esforços para se integrar na natureza constituindo com ela uma única e mesma experiência no universo. Aliás, ser humano é parte integrante da natureza.”

 

Para o docente, vivemos uma crise humana, onde o homem está polido pela ganância, do ter e não ser, ter o conhecimento e o poder sem a sabedoria. Ou seja, está polido pelo racismo, xenofobia, homofobia, misoginia. “O ocidental, de uma maneira geral, tem como projeto maior da vida dominar e transformar a natureza e obter o proveito, o capital, o poder econômico a todo custo. E o propósito desse esforço nesta lógica utilitarista é, muitas vezes, para impor e ostentar o seu “status social” na sociedade”.

 

 

Tradição filosófica

 

Luís Tomás Domingos pondera que, quando falamos da África, precisamos ter prudência porque trata-se de um imenso continente com grandes diversidades socioculturais. Contudo, dentro desta variedade cultural, há uma certa unidade. Coexiste habitualmente dois sistemas de conhecimento: o “tradicional’ e o “moderno”. São referências para situar, interpretar e compreender os mesmos fatos e eventos.

 

“A tradição filosófica africana compreende o seu ponto culminante na relação fundamental entre Deus, o homem e a natureza que se revela na visão unificada do mundo. E esta cosmovisão se apresenta como uma concepção integrada do universo, da vida e do homem, uma totalidade coerente que continua a fornecer o fundamento do pensamento filosófico, religioso, ou seja, a maneira de ser e estar no mundo.”

 

O universo no qual vive e morre o africano, de acordo com o pesquisador, se compõe de dois espaços ou modos distintos. Um escondido e invisível: é o mundo de todos os seres invisíveis, espirituais; outro visível e observável: o mundo dos homens, dos animais, dos vegetais, de todo reino mineral. O homem se vê em harmonia com aqueles que são vivos e com aqueles que partiram. A religião tradicional africana constitui o fundamento desta relação entre os dois mundos: visível e invisível.

 

“A finalidade da existência do homem na cosmovisão africana está estabelecida no universo e é influenciado pela ordem dos seres na natureza. Um dos fundamentos da arte de viver do africano é a “participação” ou a comunhão profunda com a natureza. Podemos situar as diferenças entre a arte de viver dos ocidentais, europeus e a arte de viver dos africanos”, garante.

 

Com pós-doutorado na Université Paris 8 - Vincennes-Saint-Denis, na França, Luís Tomás Domingos também atua no Núcleo dos Estudos Africanos e Afro-brasileiros (NEAAB) da UNILAB. Atualizações sobre a sua produção acadêmica podem ser acompanhadas na página do currículo Lattes do intelectual negro.

Fonte: 
Pedro Paz - Ascom/UFPB | Imagem: Pedro Paz
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