Pesquisador aponta fatores decisivos para investir no mercado de ações

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Análise de Felipe Araújo será publicada em revista internacional classificada como A1 pelo Qualis-Periódicos

 

Em um contexto de crise econômica e política retroalimentadas e a economia mundial virada de cabeça para baixo, provavelmente todo gestor de fundos ou investidor brasileiro deve se perguntar quais informações importam para investir bem no mercado de ações no País. O economista Felipe Araújo, recém-formado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), responde: entre 2014 e 2016, os fatores que mais importaram foram a agenda política brasileira, as contínuas ações do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), as oscilações nos mercados de commodities (matérias-primas) e a demanda por minério de ferro e cobre por parte dos chineses e norte-americanos.

 

A análise detalhada de Felipe Araújo será publicada, em forma de artigo, neste mês de abril, pela revista internacional The North American Journal of Economics and Finance, classificada pelo sistema Qualis-Periódicos da Capes como A1, o índice mais elevado e, consequentemente, de maior impacto.

 

O trabalho, intitulado Which Information Matters to Market Risk Spreading in Brazil? Volatility Transmission Modelling Using MGARCH-BEKK, DCC, t-Copulas, foi orientado pelo professor Sinézio Maia, do Departamento de Economia da UFPB, e evidencia a importância de buscar, constantemente, informações relevantes para tomar decisões sobre investimentos. “O Brasil, particularmente, já esteve sensível a crises fiscais e políticas; ao noticiário policial, com a operação Lava-Jato; e, também, a eventos de importância global, como eleições norte-americanas, políticas monetárias expansionistas de países desenvolvidos e movimentações no mercado de commodities. Porém, muitos especialistas, que passaram a indicar investimentos apenas com base apenas na agenda política e policial, erraram”, afirma Araújo.

 

Segundo o pesquisador, o investidor internacional prefere, em momentos de instabilidade, por exemplo, a segurança do mercado de petróleo e de minério, por meio das ações da Petrobras e da Vale respectivamente, que podem beneficiá-los pelo recebimento de dividendos, pela facilidade de movimentar esse fluxo em vários setores e pela alta correlação desses ativos com suas respectivas commodities. “Mas, no período estudado, houve espaço para fazer uso da diversificação de investimentos e de instrumentos que protegessem para o pior cenário, através de ferramentas sofisticadas de estatística. Quem seguiu recomendações de curto prazo apenas com base nos acontecimentos em Brasília, provavelmente se expôs a mais riscos do que gostaria”, avalia o economista.

 

Para Felipe Araújo, é inegável que o simples discurso de um político pode mexer com as expectativas econômicas dos investidores, fazendo com que reajam e que os mercados se movam. Mas é um erro considerar que a cultura da especulação influencia somente de modo negativo na estabilidade política e econômica dos países. “O que a especulação faz, na verdade, é melhorar a eficiência e liquidez dos mercados financeiros, quando se fala no agregado. Quando sento para conversar com indivíduos sobre investimento, nunca sugiro que especulem. Isso é para os profissionais. O que deve ser feito é estudar e aprender a investir corretamente”, orienta.

 

 

Academia e mercado

 

No Brasil, há um estigma de que os mercados financeiros são máquinas do mal, mas, quando bem usados, podem ser propagadores de prosperidade, diz Felipe. “Eu mesmo venho estudando, no último ano, como desenhar produtos financeiros que possam viabilizar investimentos inicialmente não atrativos para investidores, como agendas de pesquisas sobre câncer, investimentos em infraestrutura verde no Brasil ou até fazer com que o fluxo de investimentos no país seja mais estável”.

 

Atualmente, Araújo trabalha nas linhas de risco e de mercados financeiros, com previsão de risco, derivativos financeiros (commodities, câmbio e juros), transmissão de risco entre mercados (mesma linha do artigo científico) e estrutura de mercados. Em macroeconomia, esteve dedicado às finanças públicas, em sustentabilidade da previdência social e da dívida pública brasileira, e também à mensuração do crescimento de produtividade econômica no Brasil, a fim de tentar descobrir porque o País cresce menos que seus pares.

 

Unir mercado e pesquisa acadêmica é a sua estratégia para ser um profissional o mais completo possível. “No Brasil, isso é assustador. Aproximadamente 30% do que é produzido na universidade é diretamente aplicado à sociedade, enquanto que, em países de referência como os Estados Unidos, esse número é de 90%. Acho que esse artigo aceito pela The North American Journal of Economics and Finance coroa essa perspectiva. Produzo muitos trabalhos científicos voltados para o mercado, a fim de atingir os dois públicos”, declara.

 

 

Sala de Ações

 

A carreira do economista Felipe Araújo teve início no projeto de extensão da UFPB denominado de “Sala de Ações”, desde o primeiro semestre de sua graduação. Também coordenado pelo professor Sinézio Maia, o projeto está em atividade há mais de dez anos e foi idealizado para formar consultores e promover extensão universitária em Educação Financeira. Hoje, a iniciativa conta com a colaboração de cerca de 30 alunos dos cursos de Economia, Contabilidade, Ciências Atuariais, Relações Internacionais e Engenharia.

 

“Quando deixei minha carreira como jogador de basquete, decidi evoluir ao máximo, no menor tempo possível”, relata Araújo. “A Sala de Ações proporcionou o ambiente ideal para me desenvolver. Sob a tutela do professor Sinézio, realizei pesquisas e exerci funções de liderança. Comecei projetos do zero, resolvia conflitos nas equipes, fazia muitas apresentações, ministrava aulas, treinamentos e ainda criei o Escritório Financeiro, em 2014, que atendeu mais de 120 pessoas, com taxa de performance altíssima, em menos de três anos, o que nos fez ganhar o Prêmio Elo Cidadão 2017. Eu brinco que, nesses anos na universidade, não fiz uma graduação apenas, mas também um MBA“, resume.

 

O Escritório Financeiro realiza orientações personalizadas e gratuitas, para atender demandas de finanças pessoais e, hoje, também corporativas. O projeto é pentacampeão do Prêmio Elo Cidadão, concedido pela Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (PRAC/UFPB) em reconhecimento à relevância das ações praticadas. Os atendimentos do escritório são realizados no Departamento de Economia, no Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), no campus I,  em João Pessoa. Em média, são registrados oito atendimentos por mês.

 

Para este ano, segundo o professor Sinézio, o grupo pretende fortalecer o atendimento e as atividades em empresas; criar a célula de finanças corporativas, para elaboração e análise de projetos; oferecer atendimentos de conjuntura econômica, em formato de monitorias; e promover o II Encontro Regional de Finanças.

 

Quando era estudante de graduação, Felipe também participou do desenvolvimento do aplicativo EducaSA, que surgiu como uma inovação do "Sala de Ações" para ajudar as pessoas a controlarem melhor seus gastos pessoais. “Ele é mais simples, limpo e prático que os concorrentes, além de possibilitar interação com os consultores do projeto. Ainda está na versão Beta e pode ser adquirido na PlayStore”, informa.

 

Atualmente, Felipe tem participado de congressos e eventos em sociedades acadêmicas prestigiosas, como a Conferência de Gestão de Risco da B3 (GRCC), Sociedade Brasileira de Finanças (SBFIN), Sociedade Brasileira de Estatística (ABE), Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia (ANPEC) e Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (SOBER). Além disso, dá palestras e cursos para investidores e interessados em educação financeira.

 

 

Mais conquistas

 

A estudante Amanda Diniz, do Curso de Economia, é uma dos atuais integrantes do projeto "Sala de Ações". Desde outubro de 2017, ela vem desenvolvendo e calibrando o modelo econométrico Sarima, empregando o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), divulgado mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para contribuir na formação das expectativas da inflação brasileira. Por meio das estimativas que elaborou, Amanda acertou a inflação de fevereiro. “O que ela conseguiu é muito difícil”, avalia Sinézio. Para o Banco Central, a Sala de Ações é um dos cinco melhores escritórios de analistas de mercado do Brasil.

 

Aluno do mesmo curso, Thiago Gouveia foi designado, no início deste ano, para prestar consultoria a empresas, por meio de uma parceria com a Fundação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEP). Em colaboração com a start up Ypcontrol, o estudante vai criar uma ferramenta que possibilitará aos gestores localizar e gerenciar riscos financeiros em suas respectivas empresas. Os indicadores contidos na ferramenta estão em desenvolvimento por uma equipe de estagiários liderados por Gouveia.

 

 

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Na fotografia, do arquivo pessoal de Felipe Araújo, ele está na companhia de uma cliente do Sala de ações.

Fonte: 
ACS | Pedro Paz
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