Professora da UFPB pesquisa sociabilidade de índios xucuru

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Annelsina Neta fala sobre desdobramento da tese de doutorado concluído na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo

 

“Imagens e narrativas de si: um estudo sobre as formas de representação do Povo Indígena Xucuru do Ororubá veiculadas em redes sociais.” Este é o título da tese de doutorado da professora Annelsina Trigueiro de Lima Gomes (Neta), do Departamento de Comunicação e Turismo da Universidade Federal da Paraíba. O trabalho realizado junto à comunidade indígena Xucuru do Ororubá, em Pernambuco, estuda a relação audiovisual e o processo de reelaboração dos sentidos na identificação étnica do povo indígena desta comunidade localizada no município de Pesqueira. 

 

Neta concluiu o doutorado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), em fevereiro de 2005, tendo já publicado dois artigos sobre o assunto pela Editora da UFPB. No momento, a professora do Decomtur realiza um trabalho de análise de vídeos sobre o cotidiano, manifestações culturais e rituais políticos produzidos por esta comunidade indígena.

 

Annelsina Trigueiro de Lima Gomes, que também integra o Programa Associado de Pós-Graduação em Artes Visuais – UFPB/UFPE, explicou que “Imagens e narrativas de si: um estudo sobre as formas de representação do Povo Indígena Xucuru do Ororubá veiculadas em redes sociais” consiste no desenvolvimento de uma reflexão sobre formas de representação e mecanismos de apropriação das redes sociais como fluxos de expressão e reafirmação da identidade étnica dos xucuru. “O estudo integra uma pesquisa mais ampla que realizamos junto ao grupo, sobre o audiovisual e a reelaboração dos sentidos no processo de identificação cultural, visando compreender a dinâmica que impulsionou os xucuru à condição de povo evidente e à dimensão de ser diferente numa sociedade marcada por mudanças no processo histórico”, observou.

 

A professora disse que o seu primeiro contato com os xucuru aconteceu em 1998, logo após o assassinato do cacique Xicão Xucuru. “Meu primeiro trabalho documental foi o ato público realizado em Pesqueira, por ocasião do aniversário da morte do cacique. Durante a pesquisa, enfrentei várias dificuldades, desde quando comecei, levando comigo o Seampo (Setor de Estudos e Assessoria a Movimentos Populares, da UFPB) e o Nudoc (Núcleo de Documentação Cinematográfica, também da UFPB), até os registros do dia a dia da luta dos xucuru pela posse da terra, os conflitos etc”, revelou.

 

Indagada sobre quantos índios foram pesquisados no decorrer do seu trabalho, a professora do Departamento de Comunicação e Turismo da UFPB disse tratar-se de uma estimativa imensurável, pois a etnia é grande, uma das maiores do Nordeste. “Creio que são mais de 13 mil índios. Na pesquisa para o doutorado eu não contabilizei quantos índios foram envolvidos. Eu documentei, fotografei, convivi durante muitos anos, não tem como mensurar”, ressaltou.

 

Quanto ao tipo de metodologia adotado na pesquisa, Neta explicou que o trabalho constituiu em uma longa pesquisa de mais de sete anos, antes e depois do doutorado. “Foram a convivência e perspectiva dialógica que imprimiram o caráter do trabalho. Nesta segunda fase, olho os xucuru da mesma forma, como atores sociais, sujeitos e interlocutores do seu próprio discurso”, enfatizou.

 

Memória indígena

 

Annelsina Gomes informou também que, como suporte, analisou a memória dos trabalhos de etnodocumentação e vídeos produzidos por jovens da própria etnia. “Veiculados no Youtube, contemplam o cotidiano, rituais políticos, manifestações culturais e rituais religiosos, sob a forma de registro documental ou representação artística. Somamos a isso, outras peças postadas no Facebook que permeiam as interrelações dos jovens xucuru com outros grupos”, explicou.

 

A professora acrescentou que, como suporte, analisou a memória audiovisual dos trabalhos de etnodocumentação que ela mesma produziu sobre o grupo. “Além disso, outras peças foram somadas ao longo da pesquisa, que resultou no registro imagético-sonoro, compreendendo 14 vídeos-documentos e aproximadamente 600 fotografias sobre o cotidiano, rituais políticos, manifestações culturais, religiosas e a memória dos mais velhos”, destacou.

 

De 2005 para cá, ocorreram muitas mudanças nos processos de interlocução que os povos indígenas têm com a sociedade envolvente. No caso dos xucuru do ororubá, a relação com vídeo é muito forte em virtude da repercussão que teve o documentário “Xicão xucuru” , realizado pela TV Viva (1998),que denunciou o assassinato do cacique Xicão a mando dos latifundiários da região.

 

De acordo com Neta, desde então, vários documentários foram feitos e os xucuru, principalmente os jovens, sempre manifestavam interesse em conhecer as técnicas do audiovisual. “Através de um ponto de cultura existente na própria comunidade, eles realizaram oficinas de vídeo e passaram a registrar tudo aquilo que vinha sendo feito por outros. Daí para expandir para todo mundo foi só ocupar os espaços das redes sociais. A minha pesquisa na atualidade é justamente sobre isso, como eles ocupam os espaços das redes sociais como campo polifônico de sua cultura, dos processos de sociabilidade, das tradições etc”, complementou.

Fonte: 
Agência de Notícias da UFPB - Costa Filho
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