UFPB entrevista Nívia Pereira

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A professora Nívia Cristiane Pereira da Silva, do Curso de Serviço Social da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), foi vencedora do Prêmio Elo Cidadão de 2017 e 2016, com o projeto de extensão Mulheres e Universidade: a contribuição da extensão universitária para as ações de combate à violência no campus. Além do trabalho acadêmico, Nívia Pereira é uma das professoras à frente do Fórum de Mulheres em Luta da UFPB, criado em março de 2017, que vem levantando o debate sobre a violência contra as mulheres que trabalham, estudam e convivem nos campi da Universidade. O UFPB Entrevista conversou com Nívia Pereira sobre seu trabalho, ações e sobre o machismo que ronda a universidade.

 

 

Gostaria que você falasse um pouco sobre sua trajetória acadêmica até chegar à UFPB.

Sou graduada em Serviço Social pela UFPB, mestre em Serviço Social pela Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) e doutora em Serviço Social pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Durante a graduação fui militante do movimento estudantil representando estudantes de Serviço Social em entidades estudantis como Centro Acadêmico e Executiva Regional de Estudantes em Serviço Social.

 

Apesar de o Serviço Social ser um campo majoritariamente feminino, houve episódios de machismo no seu caminho? Como eles impactaram seu trabalho?

As expressões do machismo na sociedade estão presentes em todos os momentos e lugares da graduação até hoje. O machismo está na vida acadêmica e também fora dos muros da UFPB. Houve episódios de violência que aconteceram comigo. Um deles foi a ameaça de um aluno, em sala de aula, que não aceitou a nota atribuída à avaliação e chegou a dizer que se eu não estivesse grávida (eu estava grávida de oito meses), eu ia ver o que ele iria fazer. Foi uma ameaça e logo depois o aluno saiu da sala, mas me senti totalmente vulnerável naquele momento.

 

O machismo na universidade é o cerne do seu projeto de extensão, que foi premiado no Enex, o Encontro de Extensão da UFPB, de 2017. Fale um pouco sobre ele.

O projeto Mulheres e Universidade: a contribuição da extensão universitária para as ações de combate à violência no campus surgiu a partir da necessidade de pautar debates e realizar ações contra a violência na UFPB. Um projeto premiado em 2016 e 2017 pelo Prêmio Elo Cidadão. As principais ações são voltadas para mulheres que trabalham, estudam e convivem na UFPB, como: Cine feminista, Mulher em pauta, oficinas, palestras e cursos. Atualmente, 17 alunas de graduação compõem o projeto.

 

Quais os resultados que você depreende dele?

Os resultados são contribuir com a formação das estudantes, pautar as particularidades das mulheres da UFPB articuladas com a sociedade brasileira, e fortalecer o debate e a resistência sobre a violência contra a mulher.

 

Além desse projeto, quais outros você desenvolve?

No momento, desenvolvo apenas esse projeto, tendo em vista que sua estrutura contém diversos subprojetos, todos voltados para intervenção com mulheres.

 

Você é uma das pessoas que está à frente do Fórum de Mulheres da UFPB, que também dialoga com o projeto de extensão. Como você vê o machismo e a violência contra as mulheres na academia?

O tema é necessário ser pautado e enfrentado todos os dias. Os projetos de extensão podem contribuir, de forma bem particular, ao cumprir sua função política e institucional. Associar as atividades e o projeto de extensão vem dando resultados bem interessantes.

 

Quais as principais ações do Fórum para enfrentar a violência?

Exigimos a elaboração de uma política institucional de atenção às mulheres em situação de violência, monitoramos os processos administrativos de denúncia sobre violência contra as mulheres, oferecemos atividades abertas como palestras, oficinas e temos plenárias a cada quinze dias nos diferentes campi da UFPB.

 

De que forma a violência contra as mulheres está relacionada ao contexto político que vivemos, principalmente, nos ataques às universidades?

A sociedade brasileira é patriarcal, racista, sexista e misógina, e a UFPB, por se tratar de uma instituição inserida nas relações sociais, também reproduz as opressões e explorações contra as mulheres. É necessário que todas as instâncias da comunidade acadêmica reconheçam a existência da violência contra nós, mulheres, na UFPB e que possamos enfrentar essa situação o mais rápido possível. O Fórum de Mulheres em Luta da UFPB é um espaço de organização política e auto-organizado das mulheres que trabalham, estudam e convivem na UFPB.

 

 

Fonte: 
ACS | Lis Lemos. Fotografia: GEPSS Feminista UFPB
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