Presidente do IPEA fez conferência no Centro de Educação onde debateu, acompanhado do Reitor da UFPB, a situação do país no cenário internacional
“Não há receitas. Nós é que temos de inventar as nossas próprias alternativas”. Essas são algumas das palavras de Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em um esforço de compreender o momento de singularidade pelo qual passa o Brasil no cenário econômico mundial na entrada desta segunda década do século XXI. Pochmann esteve em João Pessoa na última sexta-feira, quando participou de um debate no Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Em um auditório lotado de estudantes, professores e lideranças políticas locais, Pochmann mostrou uma trajetória do país a partir do século XIX aos nossos dias, alternando cenários que indicam as perspectivas do mundo do trabalho e das cenas política e social. Partiu de uma constatação: existe um momento de construção de uma nova centralidade. Em sua visão, a economia caminha para um “mundo multipolar, no qual o Brasil poderá ocupar um grande papel”.
Ao lado do professor Rômulo Polari, Reitor da UFPB, de Rodrigo Soares, presidente estadual do Partido dos Trabalhadores (PT) e Nilmário Miranda, presidente da Fundação Perseu Abramo – promotora do evento – Marcio Pochmann montou um quadro histórico com vários momentos nos quais o capitalismo mundial experimentou suas transições e grandes mudanças, desde o século XVII quando a Ásia ainda era o “centro do mundo”. Em sua linha histórica – que poderia ser identificada com o próprio projeto de modernidade Ocidental - foi pontuando o que ele chamou de “deslocamentos” que envolvem a 1ª Revolução Industrial, quando por volta da década de 1750 a Inglaterra assumiu o papel de protagonista no ambiente econômico mundial. Ele lembrou os anos de 1873 com a emergência dos Estados Unidos e Alemanha, as duas grandes Guerras Mundiais (1917 e 1945).
Nesse processo, Pochmann pontou que experimentamos uma nova transição no momento, marcado pelo clima de decadência dos Estados Unidos, cujo sistema produtivo apresenta-se debilitado. “É uma economia oca, mas isso não quer dizer que os EUA vão deixar de ser uma referência . Mas temos aí uma janela de oportunidades para alguns países darem um salto em seu desenvolvimento”.
Democracia e desenvolvimento
Durante sua conferência, o presidente do IPEA tomou o cuidado de identificar a presença brasileira nesse processo mundial cujas marcas aparecem em momentos como a reforma laboral de 1888 (fim da Escravidão), a conquista da República, a Revolução de 1930 até os nossos dias com os dois governos do ex-presidente Lula. Na perspectiva de Marcio Pochmann, em muitos desses momentos a sociedade brasileira cometeu falhas porque “foi incapaz de estabelecer uma maioria política” que desse prosseguimento a um projeto forte de desenvolvimento.
Destacando que os governos do ex-presidente Lula, comparativamente com outras décadas, representou uma maioria política comprometida com o crescimento do Brasil, Pochmann observou que precisamos agora debater qual o perfil do crescimento do País. “Até 2002 o Brasil não tinha alternativas no cenário de crise, hoje temos opções”.
Pochmann destacou que o Brasil vai entrar em uma era de grandes mudanças demográficas, com envelhecimento da população, redução do número de habitantes e forte transição do mundo do trabalho. Nesse ambiente futuro, ele observou que o projeto do Brasil no capitalismo “vai depender de mais lutas que tendem a fortalecer a democracia e as políticas públicas, com ênfase no conhecimento como principal ativo”.
Essa linha de raciocínio do presidente do IPEA foi acompanhada também pelo pensamento do reitor da UFPB. Em sua fala, Rômulo Polari destacou que o Brasil vive um momento único que representa forte oportunidade de desenvolvimento. Polari observou que o contexto mundial é de construção de uma nova hegemonia na qual aparecem os chamados BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China - e fez questão de marcar a necessidade de uma ênfase no equilíbrio ambiental e na educação. “Não tenho dúvidas de que o Brasil terá um grande papel na produção de alimentos, mas para sermos a 5ª economia mundial isso não vai acontecer automaticamente – precisamos fazer nosso dever de casar e fortalecer a educação, a ciência e a tecnologia”, destacou o reitor.
Fonte: Agência de Notícias da UFPB – Marcus Alves