O tabagismo atrelado ao Covid-19
Em 1986 a 39ª Assembleia Mundial de Saúde reconheceu o tabagismo como uma pandemia (1). Atualmente, essa pandemia responde por 8 milhões de mortes anuais no mundo e impõe um custo global de 1,4 trilhão de dólares ao ano para todas as nações (2-3). Já no Brasil, no ano de 2011, foram 147 mil óbitos ao ano e um custo de mais de R$ 23,37 bilhões de reais ao ano para o sistema de saúde (4).
O tabagismo é considerado um grave problema de saúde pública e uma das suas complicações é a redução da capacidade respiratória do indivíduo. Além disso, fumar aumenta o risco de infecções bacterianas e virais, tais como doença pulmonar pneumocócica invasiva, influenza e tuberculose. O tabagismo é, ainda, o principal fator de risco associado ao desenvolvimento da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). O comportamento de fumar é associado também a outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como cardiopatias, diabetes, hipertensão arterial e câncer. Eles também sofrem com efeitos adversos de caráter sistêmico, como alteração do funcionamento do sistema imune, o que explica o maior risco de infecções respiratórias bacterianas e virais, e um maior risco de desenvolverem e morrerem por tuberculose, quando comparados com não fumantes.(5-6) A maioria dessas condições e doenças tabaco-relacionadas foram identificadas como fatores de risco para as complicações da Covid-19. (7-8)
Pesquisas que buscam explicar a relação entre a Covid-19 e o tabagismo aponta que o aumento na expressão da enzima de conversão da angiotensina 2 (ECA2) entre fumantes seria um dos principais mecanismos biológicos responsáveis pelo maior risco de progressão e complicações da Covid-19 neste grupo. A ECA2 é uma proteína encontrada na membrana celular, na qual o vírus se acopla para invadir células e injetar seu material genético. O sucessivo processo de invasões e replicações será mais intenso quanto maior for a quantidade desses receptores nos órgãos previamente à sua infecção (9-10).
Estudos apresentam o nível de expressão de ECA2 nas células, que tornam os fumantes mais vulneráveis à infecção pela Covid-19, tende a se normalizar entre ex-fumantes (11).
A exposição ao tabagismo incluindo tanto os atuais quanto ex-fumantes foi relatada em oito estudos, com 221 casos confirmados de COVID-19. Foi avaliado a prevalência de atuais fumantes em todos os estudos que confirmaram COVID-19, de fato, 22,30% dos fumantes atuais e 46% dos ex-fumantes tiveram complicações graves. Fumantes com COVID-19 têm 3,25 vezes mais chances de desenvolver quadros mais graves da doença do que não fumantes. (12-13)
Os tabagistas são considerados grupo de risco da Covid-19 devido a danos pulmonares associados ao ato de fumar. Alguns problemas são os casos de bronquiolite respiratória (geralmente assintomática), diversos tipos de pneumonias, bronquite crônica, tuberculose e cânceres de pulmão, promovendo o declínio da função pulmonar. Com isso, o risco de infecção pela COVID-19 em tabagistas é maior (14).