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Suplementação de Vitamina D e Infecções

por Coordenação publicado 27/09/2020 13h21, última modificação 19/08/2024 11h36
Texto elaborado pela acadêmica Camylla Araújo Correia revisado pelo Professor Dr. Gabriel Rodrigues Martins de Freitas.

   

     A função imunológica ideal depende de um sistema imunológico saudável. No que lhe concerne, uma nutrição adequada é crucial para garantir um bom suprimento de fontes de energia.

      Em contrapartida, muitos fatores podem afetar o nível dos micronutrientes, como: a falta de alimentos nutritivos devido à disponibilidade limitada, renda ou escolhas de estilo de vida (por exemplo, vegetarianismo ou veganismo), e o bloqueio de absorção da vitamina D, devido ao uso de protetor solar ou roupas de proteção ou, ainda, associado ao momento de isolamento pelo qual o mundo está passando.

      Sabe-se que há uma interação bidirecional entre nutrição, infecção e imunidade, isto é, a imunidade é comprometida quando a nutrição é deficiente, predispondo os indivíduos a infecções; assim como um mau estado nutricional pode ser acentuado pela resposta imune durante uma infecção. Inclusive, estudos mostram que a deficiência de micronutrientes aumenta o risco de morbimortalidade associada ao sarampo, pneumonia e doenças diarreicas- infecções comuns em todo o mundo. Nessa situação, é evidente a necessidade de suplementar a ingestão alimentar com micronutrientes, de modo que essa suplementação seja feita dentro dos limites de segurança recomendados e com acompanhamento de um profissional especializado.

      Por outro lado, há poucas informações sobre os efeitos da suplementação na saúde quando o organismo não tem indícios de deficiência em micronutrientes. Alguns dados clínicos disponíveis indicam que a suplementação, sobretudo, com as vitaminas C e D e zinco pode modular a função imunológica e reduzir o risco de infecção, porém, ainda existem dados contraditórios. Sendo assim, verifica-se a necessidade de pesquisas adicionais de ensaios clínicos padronizados e melhor caracterizados para investigar os possíveis efeitos da suplementação sobre o risco de infecção.

       A vitamina D ou colecalciferol, consiste em um hormônio esteroide cuja principal função é manter a homeostase do cálcio nos processos de formação e reabsorção óssea, sendo sua principal fonte a formação endógena nos tecidos cutâneos a partir da exposição aos raios solares, ou ainda, em menor percentual, da absorção a partir da alimentação.

       Em virtude do seu papel no metabolismo do cálcio, a vitamina D passou a ser utilizada como suplementação para indivíduos portadores de degenerações ósseas. No entanto, a forma ativa da vitamina D também tem apresentado ações sistêmicas, como efeitos imunomoduladores que compreendem a diferenciação e ativação de linfócitos, macrófagos e células natural killer bem como a diminuição na produção de citocinas inflamatórias. O reconhecimento da importância da vitamina D na homeostase sistêmica despertou interesse na comunidade científica, o que resultou em um expressivo percentual de estudos nessas últimas décadas sobre a fisiologia da vitamina D no sistema imunológico.

       Em uma meta-análise de 25 ensaios clínicos randomizados, as evidências mostram que a suplementação de vitamina D protege o organismo contra infecções respiratórias agudas (IRAs). No entanto, desde então, vários ensaios clínicos randomizados foram publicados, apresentando resultados diferentes quanto à eficácia da vitamina D sobre as IRAs.

       Em relação à COVID-19, embora existam alguns indícios que apoiem o papel da vitamina D na redução dessa infecção (como o fato de que o surto ocorreu no inverno, época em que as concentrações de 25-hidroxivitamina D são mais baixas; e de que as taxas de letalidade aumentam com a idade e com a comorbidade crônica da doença,  sendo ambas associadas a menor concentração de 25 (OH) D) ainda não se tem evidências de um estudo clínico randomizado que demonstrem qualquer benefício do uso de vitamina D para prevenção ou tratamento da Covid-19.

       Além disso, há uma grande discussão acerca da dosagem de vitamina D em casos de infecção, levando em consideração a eficácia e segurança. Portanto, até então, o nível limite de ingestão da vitamina D ainda é desconhecido. No entanto, em 2011, o Institute of Medicine estabeleceu o nível superior de ingestão em 4000 UI/d, tendo como referência apenas estudos focados na saúde óssea, não contemplando, devido à falta de evidências, outras doenças associadas à deficiência de vitamina D.

       Ainda assim, a Endocrine Society considera que, em determinadas condições clínicas, a dosagem de 10.000UI/d seja necessária para o tratamento de alguns pacientes. Ademais, alguns estudos realizados não relataram efeitos adversos em pacientes recebendo doses de 10.000 UI/d. Enquanto isso, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia sustenta que não existe, atualmente, nenhuma indicação aprovada para prescrição de suplementação de vitamina D visando efeitos além da saúde óssea.

        Há, entretanto, evidências de que doses intermitentes (mensais ou anuais) muito altas de vitamina D podem ser prejudiciais, com risco aumentado de quedas ou fraturas, e efeitos adversos como hipercalcemia e hipercalciúria.

        Sendo assim, no geral, não há necessidade de se fazer suplementação de qualquer nutriente quando se tem uma dieta equilibrada e hábitos de vida saudáveis. Como consta em sua definição, suplementos vitamínicos e/ou minerais são indicados somente para pessoas que necessitem complementar a dieta caso a ingestão não seja suficiente. No entanto, em meio à pandemia da Covid-19, tem-se observado um aumento pela procura de vitaminas nas farmácias. Segundo o levantamento de dados, referentes aos 12 meses anteriores a maio de 2020, da IQVIA- consultoria especializada no setor farmacêutico- a demanda por vitaminas, no mercado, cresceu 24,75%, passando de 173,3 milhões de unidades para 216,3 milhões.

 

 

 

 

 

 

 

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