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CANNABIS: um novo tratamento para dores crônicas, diminuindo a utilização de opioides
A massiva onda de abuso de opioides tornou-se um problema cada vez mais notório com mais de 26 milhões vítimas por todo o mundo. De acordo com um dado da Central for Disease Control and Protection (CDC) cerca de cerca de 42 mil pessoas, em 2016 nos Estados Unidos, morreram de overdose causada por opioides, desse montante 23% utilizando-o para fins médicos (Wiesel e Wilson-Poe, 2018).
Os opioides são geralmente utilizados na terapia de dores crônicas e de acordo com a portaria SAS/MS nº 1083, de 02 de outubro de 2012, a partir de degrau 2 e 3 no Degrau da Escala Analgésica da Organização Mundial de Saúde (OMS) (Brasil, 2012). Diante do cenário onde a utilização de opioides é uma alternativa com perigos em potencial, surge a necessidade de diminuir seu consumo afim de evitar casos de vício ou tolerância que gere o aumento de doses (Wiesel e Wilson-Poe, 2018). Neste contexto a cannabis apresenta significativa relevância, uma vez que, recentemente em uma revisão feita pela National Academies of Science (NAS) comprovou-se que ela possui eficácia no tratamento de dores crônicas em adultos (Wiesel e Wilson-Poe, 2018).
O poder terapêutico da planta há muito tempo vem sendo estudado. Seus componentes químicos, chamados canabinoides são divididos em três, os fitocanabinoides, os endocanabinoides e os canabinoides sintéticos, os quais, no corpo humano, possuem dois receptores (CB1 e CB2) (Honório, 2006). Os canabinoides, tanto os endógenos quanto os exógenos, induzem analgesia quando agem sobre seu receptor CB1 na Substância cinzenta do aqueduto de Sylvius (SGAS) (Vanegas, 2013).
O TCH, um fitocanabinoide, e outros canabinóides sintéticos, demonstraram efeitos analgésicos até 10 vezes mais potentes que a morfina em modelos animais de dor aguda e neuropática por administração parentérica ou sistêmica (Cichewicz, 2003). Todavia, mesmo com um potencial analgésico alto, a psicoatividade dos compostos é um efeito adverso que limita seu uso (Lessa, 2016). Contudo, além da utilização exclusiva de canabinoides, foi avaliado que há uma sinergia farmacológica entre opioides e canabinoides que permitem sua utilização conjunta potencializando seus efeitos analgésicos, e ainda promovendo a diminuição nas taxas de tolerância e vício na droga (Lessa, 2016).
Em um estudo feito por Haroutounian et. al em 2016 e Vigil et. al em 2017, foi observado que pacientes portadores de dores crônicas ao serem submetidos a tratamentos com cannabis alcançaram resultados satisfatórios, promovendo melhoras nas dores, qualidade de vida, vida social, atividades em geral e na concentração. No estudo de 2017 3,4% dos pacientes cessaram a utilização de opioides substituindo totalmente dentro dos 3 meses, e no de 2016, 44% diminuíram as doses de opioides consumidas.
A partir dos trabalhos abordados pode-se concluir que ainda há lacunas as quais necessitam ser estudadas até que se alcance um maior entendimento sobre o mecanismo de ação dos canabinoides, para que sua psicoatividade não seja um efeito adverso limitante para seu uso e sua aplicação se torne mais presente nas terapias de dores crônicas.
REFERÊNCIAS:
CICHEWICZ, Diana L. Synergistic interactions between cannabinoid and opioid analgesics. Life Sciences, [s.l.], v. 74, n. 11, p. 1317-1324, jan. 2004. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.lfs.2003.09.038.
HAROUTOUNIAN, Simon. The Effect of Medicinal Cannabis on Pain and Quality-of-Life Outcomes in Chronic Pain: A Prospective Open-label Study. The Clinical Journal Of Pain, [s.l.], v. 12, n. 32, p. 1036-1043, dez. 2016.
HONÓRIO, Káthia Maria; ARROIO, Agnaldo; SILVA, Albérico Borges Ferreira da. Aspectos terapêuticos de compostos da planta Cannabis sativa. Química Nova, [s.l.], v. 29, n. 2, p. 318-325, abr. 2006. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0100-40422006000200024.
LESSA, Marcos Adriano; CAVALCANTI, Ismar Lima; FIGUEIREDO, Nubia Verçosa. Cannabinoid derivatives and the pharmacological management of pain. Revista Dor, [s.l.], v. 17, n. 1, p. 318-325, mar. 2016. GN1 Genesis Network. http://dx.doi.org/10.5935/1806-0013.20160012.
VANEGAS, Horacio. A aspirina, os opiáceos e a maconha no sistema endógeno de controle da dor. Estudos Avançados, [s.l.], v. 27, n. 77, p. 23-28. 2013. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0103-40142013000100003.
VIGIL, Jacob M.; STITH, Sarah S.; ADAMS, Ian M.; REEVE, Anthony P.. Associations between medical cannabis and prescription opioid use in chronic pain patients: a preliminary cohort study. Plos One, [s.l.], v. 12, n. 11, p. 12-13, 16 nov. 2017. Public Library of Science (PLoS). http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0187795.
WIESE, Beth; WILSON-POE, Adrianne R.. Emerging Evidence for Cannabis' Role in Opioid Use Disorder. Cannabis And Cannabinoid Research, [s.l.], v. 3, n. 1, p. 179-189, set. 2018. Mary Ann Liebert Inc. http://dx.doi.org/10.1089/can.2018.0022.