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Aerojampa incentiva formação de mulheres nas engenharias

publicado: 29/07/2021 16h53, última modificação: 29/07/2021 16h53

“Não é o gênero que define um bom engenheiro, mas sim sua capacidade técnica em desempenhar sua profissão. Então por que não atrair mais mulheres à engenharia?”, questiona a professora Halane Fernandes, vinculada ao Departamento de Engenharia Mecânica da UFPB. Desde a sua graduação em Engenharia Civil, Halane observava a disparidade entre os gêneros na área e foi na docência que surgiu a oportunidade de criar um projeto de incentivo à formação e participação das mulheres na área.

Segundo dados da própria professora, na UFPB, o “pior cenário” pertence ao curso de engenharia mecânica: apenas 12,6% de todos os alunos ativos no período 2020.2 são mulheres. Dos 15 estudantes formados no período 2020.1 apenas uma era mulher e, no mesmo período, dos 57 que ingressaram, havia somente sete mulheres.

A ação surgiu vinculada ao projeto Aerojampa, uma extensão de aerodesign que promove a inserção de alunos de todas as engenharias na aeronáutica. “Verifiquei que temas de aeronáutica atraíam a atenção de algumas meninas e o relato de muitas delas era que o projeto (Aerojampa) as estimulava a permanecerem nos cursos de engenharia”, relembra Halane Fernandes, que também é uma das coordenadoras da extensão, que existe desde 2007. 

Foi apenas nos últimos três anos que o projeto de incentivo às mulheres entrou em desenvolvimento beneficiando estudantes do ensino médio e universitárias. A ação atua levando palestras, cursos ou dinâmicas que motivam a formação e participação dessas mulheres nas engenharias.

A extensionista Letícia Vicente, estudante de Engenharia Mecânica, afirma que o Aerojampa “mostra todos os dias que a engenharia tem espaço suficiente para mulheres e homens, que não somos menos capazes que eles. Também, mostra o quão é importante a minha permanência (no curso) para o incentivo de outras mulheres à, não só permanecerem, mas também ingressarem na carreira.”

Ela relembra que quando contou para familiares que queria seguir carreira da engenharia, ouviu frases como “mas isso nem é coisa de mulher” ou “mas você ficará com a parte mais ‘leve’ da profissão, certo?”. Quem não comentava, direcionava olhares de reprovação. Dentro da universidade não foi diferente, seus professores e colegas perguntavam: “tem certeza que você consegue?” ou “mas você não pensou em cursar algo que 'combine' mais com você?”. Somado a isso, há a baixa representatividade de professoras, como mulheres que alcançaram sucesso na área.

“Ser mulher e cursar engenharia é passar por momentos de grande satisfação e motivação ao encontrarmo-nos com mulheres que conseguiram ter sucesso na profissão apesar das dificuldades. Porém é, também, quase sempre se sentir desestimulada pela ausência de outras mulheres e preconceitos vindos dos homens que são a maioria nesse espaço”, relata a estudante.

Segundo Letícia, que atua como diretora da subequipe de controle e estabilidade, o Aerojampa é um projeto que incentiva a permanência de mulheres nas engenharias, sendo muito importante diante de um contexto de preconceitos e falta de incentivo de familiares.

A história de Gabriela Waleska, aluna de Engenharia Renováveis, não é muito diferente. Ela é a primeira pessoa da sua família a conseguir entrar na universidade e, por mais que tenha sido festejado por todos - muitos não sabiam nem o que era engenharia -, há sempre aquele comentário que tenta desestabilizar sua confiança, mas isso não abalou a jovem.

Na universidade, ela relata o pedido de colegas e professores para que mulheres expliquem determinado assunto, não com a intenção de aprender com elas, mas apenas para testá-las. Outro problema muito comum é a “supervalorização” da mulher: quando não se acredita que uma ela é capaz de desenvolver uma atividade, e a primeira ideia é que ela não é boa no que faz, os homens dão super destaque aos trabalhos delas, por exemplo, em tom de surpresa, eles dizem “você é realmente boa nisso”; “você realmente fez direito”, explica a estudante.

A extensionista é co-líder da equipe de gestão e responsável pelo marketing do Aerojampa. No projeto, Gabriela encontrou o que buscava: colocar em prática seu conhecimento, aprender mais, receber uma “injeção de ânimo” e orientação para seguir na carreira. Junto à professora Halane, a estudante afirma que alcançou o que buscava através de uma forte rede de apoio. 

Gabriela também afirma que enquanto ela incentiva outras mulheres a entrarem nas engenharias, tudo isso reverte para si mesma, transformando-se em força para seguir no caminho que escolheu. Segundo a estudante, o projeto incentiva mulheres nas exatas e traz mulheres para a ciência e tecnologia. 

“Não é que sabemos menos, não é que não nascemos para as exatas, não tem nada a ver com isso. Tem a ver com o fato que não fomos incentivadas. Atrair mulheres para as áreas exatas é gerar desenvolvimento em todas as esferas da sociedade e mercado de trabalho”, defende a jovem.

Em 2021, a ação vai assumir um caráter explicativo e motivacional investindo na produção de conteúdo para redes sociais e capacitações em duas escolas públicas do ensino médio, com todas as atividades realizadas online. O trabalho do projeto pode ser acompanhado pelo perfil oficial do Aerojampa no Instagram.

Extensionista: Grace Vasconcelos | Edição: Lis Lemos