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Atletas paraibanas enfrentam obstáculos para seguir carreira esportiva
Os Jogos Olímpicos de Tóquio, ocorridos em meados deste ano, foram históricos para o protagonismo feminino. Com a equidade de gênero como lema do maior evento esportivo do mundo, as mulheres representaram quase 49% dos competidores. No Brasil, segundo o Comitê Olímpico Brasileiro, entre os 302 atletas que foram ao Japão representar o país, 141 eram mulheres.
E o desempenho das atletas foi inspirador. Ana Marcela Cunha, Rebeca Andrade e a dupla Martine Grael e Kahena Kunze subiram ao lugar mais alto do pódio e conquistaram medalhas de ouro para a delegação brasileira.
Entre as brasileiras também tiveram aquelas com feitos únicos, como: Rayssa Leal com sua primeira medalha de prata, aos 13 anos. Bia Ferreira conquistando uma medalha de prata inédita para o boxe feminino e a dupla Luisa Stefani e Laura Pigossi que conquistaram a primeira medalha de bronze e entraram para a história do tênis brasileiro.
Mas, embora a equidade de gênero nos esportes realmente tenha dado um salto nos últimos anos, o caminho que as mulheres enfrentam até a carreira profissional é cheia de desafios e falta de incentivo.
A paraibana Carollyne Medeiros, 16, começou a praticar esportes aos 11 anos e hoje joga na equipe feminina do Polígono. Para ela, o esporte sempre foi colocado como sinônimo de masculinidade. “O espaço esportivo sempre representou o famoso mundo masculino: força, determinação, resistência”, analisou a atleta que acredita que este pensamento vem mudando aos poucos.
Carollyne admite que ter que estar sempre bem fisicamente e psicologicamente são alguns dos grandes desafios na vida de uma atleta, aliado a isso está a falta de incentivo e investimento do estado.
Foi a falta de incentivo e estrutura que fizeram July Lima, 21, sair da Paraíba aos 18 anos, para ir atrás da sua carreira profissional no vôlei. Assim como tantas atletas, ela começou a treinar na escola há 10 anos. “Os homens são incentivados a jogar bola desde criança, mas a mulher não; ela é incentivada a brincar de boneca”, avalia July sobre a falta de estímulo para que as garotas façam esportes. Atualmente, a jovem acabou de jogar uma Superliga pelo Itajaí, em Santa Catarina.
Inspiração paraibana
O esporte entrou na vida de Fabyolla Ribeiro,19, aos 14 anos. O incentivo veio por parte do tio que, na época, a levava para uma praça e lhe passava alguns treinos. Ela relembra que no começo não queria participar dos treinos, mas foi adquirindo gosto pelo atletismo junto com os resultados que obtinha nos campeonatos.
Fabyolla conta que a primeira competição nacional que participou foi os Jogos Escolares da Juventude, a maior competição do país para jovens de 12 a 14 anos, em 2016. Mesmo competindo com atletas mais experientes, Fabyolla ficou em terceiro lugar e conquistou sua primeira medalha de bronze.
Para ela, o maior obstáculo está na falta de patrocínio. “Como atleta sei o quanto é decepcionante ir atrás de apoio e não conseguir, como iremos comprar materiais de treinos e de competições?”, questiona. Ela desaprova a atitude de empresas que só fecham contratos com atletas de nível olímpico, esquecendo dos atletas em começo de carreira. “As pessoas precisam entender que apoiar os atletas que ainda estão chegando também é fundamental”, desabafa.
A inspiração de Fabyolla sempre foi a conterrânea Andressa Morais, atleta de lançamento de discos que participou recentemente das Olimpíadas de Tóquio. Atualmente, a jovem faz parte da mesma equipe que Andressa participou antes de ir para São Paulo, o Clube ASPA, e treina com a ex-treinadora da atleta, Irenilta Nunes.
Entre competir e treinar outras atletas, o esporte já faz parte da vida de Irenilta há 53 anos. Ela comenta que desde a época que praticava handebol e vôlei na Universidade era perceptível a diferença com que homens e mulheres eram tratados no ambiente esportivo.
Sobre a excelente campanha das mulheres nas Olimpíadas, principalmente atletas nordestinas, Irenilta salienta o quanto é importante essa representatividade, mas critica o fato das mulheres precisarem ganhar medalhas para ter o devido reconhecimento. A treinadora ainda analisa como as nordestinas precisam se esforçar muito mais para conseguir uma carreira profissional. “A discriminação com os nordestinos no nosso país ainda é grande. Para chegar ao patamar de profissionais, precisamos estar sempre à frente”, avalia.
Embora o caminho seja cheio de desafios, a meta de Fabyolla é continuar a carreira dentro dos esportes, seja como atleta ou como futura fisioterapeuta esportiva, e seu foco está no maior evento esportivo do mundo. “O melhor plano possível é chegar no nível das olimpíadas”, conclui a atleta.
Extensionista: Aléssia Guedes | Edição: Lis Lemos