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Distanciamento social afeta produtividade de pesquisadoras
A pesquisa realizada com cerca de 15 mil cientistas ,“Produtividade acadêmica durante a pandemia: Efeitos de gênero, raça e parentabilidade” produzida pelo Movimento Parent in Science, nos meses de abril e maio de 2020, aponta que entre os docentes, quase 70% dos homens afirmaram ter conseguido submeter artigos científicos como planejado. Entretanto, entre as mulheres esse número se mostra notoriamente inferior. Menos de 50% das pesquisadoras conseguiram administrar seus trabalhos nesse período.
A jornada feminina está voltada, para além do trabalho, ao cuidado com os filhos e com a casa. Essa junção ocupa 53,3 horas semanais da vida das mulheres. Porém, a média masculina é de 50,2 horas semanais, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínuos (Pnad Contínua), divulgada em abril de 2019 pelo IBGE. Ou seja, as mulheres trabalham 3,1 horas a mais do que os homens
A docente do departamento de Ciências Sociais do Campus IV, Luziana Silva conta que tem se dividido entre as demandas do trabalho e as atividades domésticas, além de cuidar das duas filhas gêmeas com cinco anos de idade. Além das atividades de ensino, Luziana é coordenadora adjunta de dois projetos de extensão e um de pesquisa, e participa de outros dois projetos de pesquisa. A docente integra ainda o Grupo de Pesquisa em Saúde, Sociedade e Cultura (GRUPESC).
“Embora eu tenha um companheiro que de fato divida as tarefas comigo, ele tem que viajar para cuidar da mãe que está com câncer, então esse período está sendo complicado com todas essas atividades”, afirma a professora. Antes da quarentena a docente contava com o trabalho de uma trabalhadora doméstica. Porém com a pandemia, Luziana liberou a profissional com salário, e já está há três meses nessa rotina dupla.
Sobre a retomada das atividades na UFPB, que aprovou um semestre suplementar ainda em maio, a docente pondera que não foram levadas em consideração as especificidades de gênero. “A universidade tenta instaurar uma normalidade, quando a gente está vivendo uma crise em um momento totalmente adverso. O edital do Pibic não foi alterado, continua com seus prazos bem apertados”, analisa Luziana sobre as demandas acadêmicas que estão dificultando o trabalho e não condizem com a realidade em um mundo de pandemia.
Em meio aos prazos, o estado emocional também ficou em alerta. Os pais da docente, que são idosos, testaram positivo para a Covid-19 e esse foi um período de bastante preocupação. “Foi um momento de muitas incertezas e muito medo”, conta.
Mães pesquisadoras
O número de pesquisadoras que tiveram diminuição na sua produtividade, com as atividades remotas, é mais expressivo entre as mulheres que são mães. Ainda de acordo com o levantamento do Parent in Science, foi observado que entre as alunas e alunos de pós-graduação, 34,1% das mulheres têm mantido seu trabalho. No entanto, apenas 11% das mulheres com filhos estão conseguindo cumprir suas atividades. Esse número fica ainda mais baixo quando o recorte de raça é feito. Apenas 9,9% de mulheres negras estão conseguindo manter o ritmo no trabalho.
O cenário é diferente para os homens na pós-graduação. Em relação às mulheres, a porcentagem daqueles que possuem filhos e que estão conseguindo trabalhar é o dobro; o índice é de 20,6%. Essa realidade é vivida por Iany Elizabeth, doutoranda em geografia na Universidade Federal Fluminense (UFF), e que integra o Coletivo de Mães Pachamamá. Ela desenvolve pesquisas na área de gênero e etnicidade como bolsista da Capes. “Sou mulher, mãe e estudante e tenho as funções da casa e do próprio estudo”, pontua a historiadora.
A discente é mãe de um filho de um ano e dois meses. “Meu filho mama à noite, e hoje mesmo tive uma noite mal dormida e acabei acordando tarde. Mesmo que meu marido esteja comigo, tem atividades que ele não pode fazer”, ressalta. A doutoranda está com a pesquisa parada há 90 dias e tenta encontrar algum horário no dia em que possa focar na produção acadêmica.
Não se sabe ao certo quando os pesquisadores irão voltar para as atividades presenciais. Considerando esse panorama e as dificuldades enfrentadas por todos, mais especificamente por mulheres, o movimento Parent in Science fez algumas sugestões para universidades e agências de fomento tentando apontar meios de amenizar os danos da diminuição da produtividade nesse período.
Especialmente para o grupo mais afetado, que são as pesquisadoras mulheres e mães, a sugestão é aumentar o tempo de análise de currículos em editais de financiamento e concurso, bem como a elaboração de editais que visem evitar um aumento da disparidade de gênero e raça. Outro ponto levantado é flexibilização dos prazos para a prestação de contas e relatórios de projeto.
Michelly Santos | Edição: Lis Lemos