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Futebol também é espaço de resistência e luta das mulheres
No futebol a desigualdade salarial entre homens e mulheres não é diferente em relação a outros espaços de trabalho. Enquanto o esporte jogado por homens movimenta bilhões de reais, o praticado pelas mulheres beira a precariedade. Resultado de lutas e reivindicações, em 2 de setembro, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou a equiparação dos pagamentos de diárias e premiações feitos aos jogadores e às jogadoras das seleções brasileiras principais.
Essa medida acontece paralela ao desenvolvimento da modalidade no Brasil. Para a técnica do paraibano Botafogo, Gleide Costa, é uma medida a se comemorar. “Estamos rompendo barreiras culturais, onde o machismo ainda está impregnado e não vai ser fácil atingir o patamar dos direitos iguais, mas temos que continuar a caminhar e lutar em vários espaços de poder, dentre estes está a política.”
O processo histórico e de legitimação das modalidades feminino e masculino são diferentes, o que resulta em certas discrepâncias atuais. Marta, eleita a melhor jogadora de futebol de todos os tempos, coleciona seis troféus, no entanto, não chegava a receber nem 1% do rendimento anual do jogador Neymar. No ano passado, os brasileiros puderam acompanhar pela primeira vez a Copa do Mundo feminina pela televisão aberta. Em seu primeiro jogo, Marta utilizou uma chuteira preta, sem patrocinadores, com apenas duas faixas, uma rosa e outra azul, simbolizando a igualdade de gênero e respeito.
Atacante do time Flamengo/Marinha (RJ), a paraibana Lú Meireles acredita que a igualdade salarial entre as modalidades é a maior conquista do futebol feminino. “Posso afirmar com certeza que o cenário está mudando. A gente vê um maior esforço da mídia em transmitir os jogos, maiores discussões nas redes sociais, alguns incentivos da CBF. Ainda não é como esperamos, mas a situação está bem melhor”, defende.
Lú está com 32 anos e relata que foram mais de dez anos no amadorismo para conseguir chegar ao profissionalismo em um grande clube. “É uma conquista muito grande porque a gente vê que faz o futebol acontecer se nos der uma chance”. Em 2017, a jogadora foi convocada para um período de treinos na seleção brasileira e destaca que a garantia de oportunidades é uma das lutas das jogadoras.
“Nós do futebol feminino não lutamos para nos igualar aos homens. Nossa luta é para construir e conquistar espaços, visibilidades, oportunidades. Acho que se a gente pensa dessa forma, e não entra em conflitos [futebol feminino x masculino] ganhamos muito mais”, avalia a jogadora que está no Flamengo/Marinha desde o ano passado.
Futebol paraibano jogado por mulheres
Na perspectiva de Gleide Costa, a Paraíba vem avançando na modalidade, com a adesão dos times ao futebol feminino, mas compreende que a falta de investimento é um grande problema. “As atletas da Paraíba são amadoras em todos os clubes, o que não diferencia da realidade nacional. Somente alguns clubes conseguem profissionalizar os seus elencos, pois a maioria das jogadoras recebe apenas ajuda de custo.”
O Campeonato Paraibano feminino teve sua primeira transmissão ao vivo no ano passado o que foi um marco para a história da modalidade. “Fazemos parte de uma história de luta que não acabou, porém me sinto incansável quando o assunto é colaborar para o desenvolvimento do futebol feminino”, afirma Gleide.
Da proibição a falta de incentivos
Proibido desde 1941, o futebol feminino só foi regulamentado no Brasil em 1983. Com isso, foi permitido que as mulheres pudessem competir, criar calendários, utilizar estádios, ensinar nas escolas, entre outras atividades. Sua criminalização, assim como a falta de incentivo marginaliza e coloca as profissionais numa posição de precariedade.
Contudo, para Gleide Costa, apenas a história não justifica as atuais desigualdades entre homens e mulheres no futebol brasileiro. “A questão temporal, no que se refere a legalização do futebol, pode trazer implicações negativas, lógico, tendo em vista que perdeu-se anos de prática. Porém isso fica no campo das suposições, pois existem esportes muito mais novos que conseguiram se desenvolver em curto espaço de tempo, no caso do MMA e outros”, avalia a treinadora.
Gleyce Marques | Edição: Lis Lemos