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Covid-19 terá impacto mais duradouro para mulheres negras

publicado: 23/07/2020 14h32, última modificação: 23/07/2020 15h23

Tornou-se difícil dimensionar todos os impactos causados pela pandemia da Covid-19 no Brasil. Contudo, mediante um cenário estrutural de racismo, pobreza e violência de gênero, as mulheres negras são as mais atingidas. Com mais de quatro meses de distanciamento social, com a ausência de políticas públicas efetivas, essas mulheres sofrerão as consequências por um longo período.

Segundo um levantamento da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco ), a Covid-19 tem escancarado as desigualdades sociais e raciais no país, atingindo fortemente os cidadãos negros. Essa população está concentrada em moradias precárias nas periferias e comunidades do país, onde o cumprimento de medidas de higiene e isolamento social é dificultado. Apesar da defasagem dos dados apresentados pelo Ministério da Saúde, em março deste ano, os números já apontavam que a doença era mais letal entre os negros.

Para a doutoranda em Sociologia pela UFPB, Mônica Vilaça, esses dados ainda não estimam o verdadeiro efeito da pandemia, já que há uma subnotificação dos casos e a ausência do critério de raça em muitos deles. Outro ponto que a pesquisadora acrescenta é o impacto para além do adoecimento. “As mulheres são atingidas a partir da violência a que elas são submetidas, quando o isolamento exige ficar em casa por vezes com o agressor. Além disso, são atingidas pela precarização dos empregos, pela suspensão de regimes de trabalho”, explica.

No caso das mulheres negras, a situação torna-se ainda mais frágil já que elas são um grupo predominante em cargos de cuidado, como enfermeiras e cuidadoras. Mas essa posição também tem reflexo em postos de trabalho informais, que estão sendo desassistidos no período da pandemia, e no caso das mães solo . “A dimensão dos problemas vivenciados pelas mulheres negras, em particular com esse cenário superado, é de um agravamento das situações já vivenciadas por elas antes da pandemia”, reflete Vilaça.

Visando traçar um panorama da situação das mulheres negras durante e após o contexto de pandemia, o Instituto Marielle Franco e a campanha Mulheres Negras Decidem lançaram um relatório que estimula a participação dessas mulheres na elaboração de políticas públicas. Como salienta a pesquisadora Mônica Vilaça, avançar em políticas públicas demanda outro tipo de compromisso do Estado com o povo, por essa razão a mobilização de grupos de mulheres é essencial: “As organizações de mulheres, em particular de mulheres negras, cumprem esses papeis de organização, fortalecimento e construção de estratégias enraizadas e que respondem diretamente a partir das experiências das próprias mulheres”.

Uma das organizações de mulheres negras em atuação na Paraíba é o Coletivo Gertrudes Maria. Formado por estudantes da UFPB, o grupo tem utilizado as redes sociais para dialogar com outras mulheres e gerar um espaço de conscientização.  Integrante do coletivo e estudante de Jornalismo, Ana Beatriz Rocha, defende que o conhecimento é um aliado no enfrentamento aos desafios da pandemia, já que pode ajudar fornecendo desde noções básicas de higiene até orientações a mulheres vítimas de violência.

Em comemoração ao mês da mulher negra, latino-americana e caribenha, o Coletivo Gertrudes Maria lançou uma cartilha com dez pontos para uma sociedade antirracista que objetiva dialogar não só com a comunidade negra, mas com toda a sociedade. “A informação é a arma de combate a todas as opressões no contexto vigente”, conclui Ana Beatriz. A sociedade igualitária é uma urgência para as mulheres negras e ultrapassa o contexto de pandemia da Covid-19. A cartilha “10 pontos para uma sociedade antirracista” está disponível para download no link:  As ações do coletivo também podem ser acompanhadas através do Instagram.

 

Ana Lívia Macêdo | Edição: Lis Lemos e Suely Porfírio