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Pífano
Pífano s. m. - Conhecido como pífaro, em Portugal, e piffero, na Itália, na tradição do nordeste brasileiro o pífano, ou apenas pife é um tipo de flauta popular, em formato de cilindro, encontrada em diversos materiais como bambu, taboca, taquara, ferro, alumínio, e até mesmo em tubo PVC. Possui sete orifícios, o da embocadura e os outros seis digitadores. Por ser uma flauta transversal, simples, aberta e com digitadores, sua classificação, pelo sistema Hornbostel-Sachs, seria 4.2.1.1.2.1.1.2. A principal expressão a qual associou-se é a das bandas cabaçais: conjuntos de tambores (antigamente feitos de cabaça, daí o nome) e pífanos, que tocam em diversas situações sociais, sejam religiosas ou seculares.
Erivan Silva (2008, p.55) e Elinaldo Braga (2015, p.43) nos mostram que há quatro fontes de influência para sua origem e desenvolvimento no território brasileiro: a indígena, a europeia, a africana e a árabe. Na cultura indígena constam diversos tipos de flautas, mas Martin Braunwieser (1946) aponta que os pífanos chegam de vez nas mãos dos portugueses não só com a chegada de músicos e bandas marciais, mas também para serem usados nos conjuntos musicais organizados pelos jesuítas, como estratégia de catequese dos índios. Câmara Cascudo nos conta sobre o “Bombo”, nome dado a um tipo de conjunto musical muito popular em Portugal, composto por dois bombos (zabumba), tambores, ferrinhos (triângulo) e pífanos. Além disso, “Tenório Rocha (1987, p. 21) cita uma versão africana defendida por Abelardo Duarte (1974), que encontra semelhanças com as orquestras africanas de São Tomé. Regina Cajazeira (2007, p.24) salienta a descrição da presença dessa bandas nas danças de negros no Nordeste de Diégues Júnior (1940, p. 293), quando das suas notas colhidas no estado de Alagoas e Pernambuco.”(SILVA, 2008, p.61). Silva também reforça a influência africana, exemplificados pelos duos de flautas malinkes: “constatei as semelhanças apontadas pela orientadora [Alice Satomi], nos ornamentos melódicos e nos intervalos harmônicos, a partir do dueto de flautas da Baoulé, cuja audição dá pra confundir com os nossos pifes cabaçais”, sobretudo, no modo de tocar os ostinatos do ritmo caboré, intervalos entre as flautas, ornamentos como portamentos e mordentes que trazem sotaques melódicos para o nosso território. (SILVA, 2008, p.61).
A afinação é determinada não apenas pela construção e temperamento do instrumento, mas também pelo tipo de sopro e embocadura do pifeiro. Como recurso, utiliza-se a técnica do “meio furo”, possibilitando a execução de uma grande quantidade de modos e escalas, inclusive cromatismos, quartos de tom, terças neutras — quando tocadas em conjunto, são notas que podem variar sua frequência, podendo formar intervalos maiores, menores — e até glissandos. Conforme Carlos Pedrasse, os pífanos mais comuns são o "Meia -Regra (40-45 cm), o Três–quartos (48-50cm), e o Regra-inteira (de meio metro acima)” (2002, p.141). Geralmente, essas nomenclaturas correspondem, respectivamente, às tonalidades de Sol Maior, Lá Maior e Fá Maior.
No contexto da música nordestina (especialmente no interior de Pernambuco, Paraíba e Ceará), as bandas cabaçais, tradicionalmente, são compostas por bombo, caixa, algum tambor médio grave e dois pífanos, ou, menos recorrente, três ou mais, que tocam melodias emparelhadas em terças, sextas, quintas. Também são chamadas de zabumba, esquenta-muié, terno-de-oreia, quebra-resguardo, entre outras denominações (2002, p.25).
Historicamente, essas bandas atuaram em festividades do catolicismo popular, participando de romarias, procissões e novenas, mas também sempre participaram de festividades profanas/populares. Mais recentemente, foram se encaixando no conjunto ganzá, triângulo, pandeiro (por influência do côco, baião, forró) e pratos (por influência das bandas marciais e de contextos mais urbanizados). Muitas fizeram sucesso e entraram no circuito fonográfico. Seus repertórios, portanto, sempre foram amplos, tocam benditos, marchas, valsas, galopes, rodas, modinha; da mesma maneira, passaram a tocar côco, baião, forró, frevo, xote, etc. Alguns dos mais conhecidos pifeiros foram Irmãos Aniceto (CE), Zabé da Loca (PE/PB), Sebastião Biano e sua Banda de Pífanos de Caruaru (PE), João do Pife (PE), Edmilson do Pife (PE), Manoel Inácio e sua banda Os Inácios (PB), Banda de Pífanos de São José de Piranhas (PB). Alguns dos exemplos mais recentes são Carlos Malta (RJ), Alexandre Rodrigues e Pife Urbano (PE), Banda Avuô (PB), Banda de Pífanos Caju Pinga Fogo (PI) .
Alice S. Lumi
Lucas de Lima W. Resende
Referências
BRAGA, Elinaldo Menezes. Celebrações da vida: história e memória da banda cabaçal Os Inácios. Campina Grande: EDUFCG, 2015.
BRAUNWIESER, Martim. O Cabaçal. São Paulo: Boletim Latino Americano de Música. VI/6 (abril): 601, 602, 603. 1946
CAJAZEIRA, Regina Célia de Sousa. Tradição e Modernidade: o perfil das bandas de pífanos da cidade de Marechal Deodoro, Alagoas. Dissertação de Mestrado (Etnomusicologia). Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1998.
SILVA, Erivan. Processo de pifanização da Banda São Sebastião do sertão Paraibano. Dissertação (Mestrado em Música) - João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2008.
PEDRASSE, Carlos Eduardo. Banda de pífanos de Caruaru: uma análise musical. Dissertação (mestrado) – Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.
CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 10ª ed., Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.
Vídeos disponíveis em 2021
Danças Brasileiras - Irmãos Aniceto (3 de 3)
Carlos Malta e Pife Muderno | Caráá...caí!! (Carlos Malta) | Instrumental Sesc Brasil
Alexandre Rodrigues e Pife Urbano
Banda de Pífanos de São José de Piranhas