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Talapi

Tocado pela comunidade Wauja, é um clarinete, simples, de palheta livre interna, sem digitadores.
publicado: 17/08/2017 13h38, última modificação: 06/05/2021 20h38
Colaboradores: Larissa Mendes, Eraldo Azvedo

Talapi. s.m. É um tipo de clarinete tocado pela comunidade Wauja, localizada no Alto Xingu, próximo ao rio Batovi, no estado do Mato Grosso. Segundo Maria Ignez Mello, também designa uma espécie de peixe, cuja aparência inspira o formato do corpo do instrumento e seus detalhes estéticos, “possuindo olhos e barbatanas”; esses detalhes integram-se a um tubo cilíndrico de bambu (yanatu) de 20cm. (MELLO, 1999, p. 103). Sua classificação - considerando o sistema MIMO, Musical Instruments Online Museum (MONTAGU, 2011) - é 4.2.2.3.1, pois é um aerofone do tipo clarinete, simples, de palheta livre interna,  sem digitadores. Mello prossegue “[...] a palheta, watanatãi, é feita de um bambuzinho bem fino, watanato que possui um seccionamento longitudinal, sendo posteriormente presa dentro do tubo inscritor com uma bola de cera de abelha” (MELLO, ibid). 

O clarinete Talapi é vinculado às “flautas Kawoká”, ou “complexo das flautas sagradas” (ibid, p. 95), um conjunto de aerofones permitidos apenas aos homens, enquanto “às mulheres não é dado ver a kawoká nem durante a performance dos flautistas e nem durante o repouso do instrumento, porém elas ouvem toda a seção musical de dentro de suas casas”; (ibid, p. 96). Esse tipo de restrição é comum a vários povos indígenas amazônicos, como por exemplo aos Tukano, Aruak, Mundurucú, Pareci, Nambikwara, Piaroa; também é encontrado entre comunidades da Nova Guiné (ibid, p. 97). 

Na comunidade Wauja, a música, o repertório e a performance desse ritual masculino, Kawoká, se relaciona, se comunica, com outro ritual, cantado exclusivamente por mulheres, chamado Yamurikuma. (MELLO, 2005, p. 96). O Talapi “é apresentado sempre em dupla: eneja, ‘macho’, e toneju, ‘fêmea’, que são tocados de acordo com a técnica de alternância. O som pode ser produzido tanto através do sopro como na aspiração do ar em qualquer das duas extremidades.” (MELLO, 1999, p. 103). Ela prossegue apontando a associação desses movimentos a duas palavras da língua Waujá: “ejekekiyekeho significa soprar (um instrumento musical, uma comida quente, a fumaça do cigarro) ou rezar”, e “keselelekepei que significa chupar [sugar], tanto um líquido quanto a fumaça do tabaco e ainda o instrumento Talaipi’’ (MELLO, 1999, p. 95).

 Lucas de Lima W. Resende

Referências:

MELLO, Maria Ignez Cruz. Música e Mito entre os Wauja do Alto Xingu. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social. PPGAS/UFSC, 1999.

MELLO, Maria Ignez Cruz. Yamurikuma: Música, Mito e Ritual entre os Wauja do Alto Xingu. Doutorado em Antropologia Social. PPGAS/UFSC, 2005.