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Pïreu xĩxĩ
Pïreu xĩxĩ. Nome dado a um tipo de clarinete em formato cilíndrico, é encontrado na comunidade Yudja, no Alto Xingu. Possui quatro ou cinco tamanhos diferentes e é feito de taquara ou bambu. Os modelos de menor tamanho são chamados de Taratararu, “nome que imita o som de vibração deste instrumento” ou Pïrearahïhï, nome da festa em que é tocado (ATHAYDE, RODRIGUES, 2003, p.39). Os detalhados estudos de Simone Athayde e Joana Rodrigues sobre tal povo e seus instrumentos, os descrevem como “instrumento de válvula” do tipo clarinete (2003, p.19). Sendo este, simples, cilíndrico e sem digitadores, poderíamos classificá-lo - de acordo com o sistema Hornbostel-Sachs, atualizado pelo MIMO, Musical Instruments Online Museum - pela numeração 4.2.2.2.1.1.1.
Os Pïreu xĩxĩ e Pïrearahïhï são construídos para serem tocados na sua festa, de mesmo nome, mas “também pode ser tocado fora desta festa, se for planejado, para praticar” (2006, p.63). Essa festa pode durar por dias, até que ao final “fazem uma representação da estória sobre a origem deste instrumento”. Diz a lenda que esses instrumentos vieram nas mãos dos “espíritos da água (Kããnã)”, que se passaram por nativos dos arredores, em um dia em que os homens da comunidade saíram para caçar. Os Kããnãs teriam feito uma grande festa com essas flautas; seduziram e enganaram algumas mulheres da aldeia, para no final carregá-las para dentro do rio e devorá-las, deixando para trás os Pïreu xĩxĩs (2006, p.19-23).
Sobre a estrutura física, Athayde e Rodrigues descrevem: “Tubos feitos de taquara [Títí ou Txuriu]. [...] Cada tubo é aberto dos dois lados mas com um nó perto da ponta da boca. É feito um pequeno buraco nesse nó, por onde é colocado uma pilha (ou palheta) [Takurare Marãxã, taquarinha]. [...] Nessa pilha é feita uma racha de modo a produzir som de vibração.” (2006, p.36-39,61;). Suas medidas variam entre 85-175cm para os de maior tamanho (Pïrearahïhï/Taratararu), e 25-50cm para os menores (Pïreu xïxï). (2006, p.62, 65)
Esses instrumentos são tocados por um grupo de homens, jovens e adultos que o fazem “dançando em linha, em que os homens que têm os clarinetes mais compridos vão no início da linha, seguidos pelos homens que tocam os de tamanho um pouco menor, e acabando num homem que leva os dois tamanhos menores.” (2006, p.63) “Várias músicas são tocadas por este instrumento, nas quais a variação no som é feita pela combinação dos vários tamanhos diferentes” (2003, p.37). Sobre essa maneira de tocar, em conjunto - muitas vezes encontradas nos povos indígenas brasileiros - Magda Pucci associa à técnica chamada hoqueto, um “sistema alternado” em que “cada pessoa toca uma ou duas notas, alternando-se com as outras. Isso exige grande entrosamento e sintonia entre os músicos, para que a melodia soe orgânica, como se fosse tocada por uma única pessoa.” (PUCCI, 2017, p.140, 141).
Lucas de Lima W. Resende
Referência:
ATHAYDE, Simone Ferreira; RODRIGUES, Joana Salomé Camejo. Os instrumentos musicais do povo Yudja. Aldeia Tuba-Tuba, Parque Indígena do Xingu, Amazônia Brasileira. Maio - Junho de 2003.
Catálogo de instrumentos musicais do povo Yudja. A história das flautas Yudja. Org.: Simone Ferreira de Athayde e Joana Salomé Camejo Rodrigues. Associação Yarikayu. Museu das Culturas, Basel, Suíça, 2006.
ALMEIDA, Berenice; PUCCI, Magda. Cantos da floresta: iniciação ao universo musical indígena. São Paulo: Peirópolis, 2017.