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Gaita de Índio ou Caboclinho
Fonte: Sanchís Clemente, Marta. 2013. Aprendendo música como tupinambá: estudo sobre os processos de transmissão musical numa Tribo Indígena Carnavalesca no bairro de Mandacaru de João Pessoa. p. 67.
Gaita de Índio ou Caboclinho s.f. O primeiro nome é utilizado na Paraíba, enquanto o segundo em Pernambuco, onde também é conhecida por gaita de cabocolinho. Guerra Peixe (1966: 148) especifica que a tribo Tupinambá de Recife a denomina Inúbia. Trata-se de instrumento de sopro, do tipo flauta longitudinal ou vertical, sendo sua fonte sonora proveniente da vibração da coluna de ar contida em seu interior.
Originalmente feita de taboca, a gaita é descrita como “flauta com aeroduto, pequena fenda que conduz o ar de encontro a um gume, o qual faz o ar entrar em vibração dentro do corpo da flauta”, mais comumente produzida de cano de alumínio, cobre ou PVC. Possui quatro ou cinco orifícios destinados à digitação, para variar a altura das notas, e mede entre 34 e 39 centímetros, e em torno de 1,5 centímetros de diâmetro. Em uma das extremidades há um bico cortado em bizel, sendo sua boquilha, quando o instrumento é feito de taboca, modelada com cera de abelha ou parafina. (Santos, 2007: 5)
Por ser então uma flauta simples com ducto interno, aberta, tubo único e possuir digitadores, segue a classificação 421.221.12.
Segundo Madureira (1980: 01), a gaita é usada como instrumento melódico e solista da pequena orquestra que anima o cortejo das tribos carnavalescas, tocando-se “antigas melodias de procedências indígenas num estilo repetitivo e ao mesmo tempo improvisado. As toadas são tocadas com o apoio rítmico da percussão – tambor, caracaxás e preacas, que executam os toques característicos da agremiação”. Atualmente são tocados temas diversos e conhecidos, como as melodias de Luiz Gonzaga.
Sua afinação é sustentada pelo sopro na embocadura, com a ajuda do abdômen, “produzindo um som agudo, claro e forte”, conforme Sanchís Clemente (2013: 99-100). Guerra Peixe (1966: 148) apresenta o som da gaita como “super-agudo, que se move no âmbito escalar uma oitava acima do flautim de banda”. A postura da língua e intensidade do sopro ajudam a produzir os harmônicos. Madureira (1980: 44) detalha a técnica de produção sonora, cujo sopro se dá através da pequena abertura na embocadura. Assim, “o ar entra em choque com fina aresta da janela – obturador, provocando vibrações sonoras. Se esse sopro for emitido com suavidade, ouviremos um som brando e grave, que corresponde ao comprimento total do tubo [soando a] nota fundamental. Intensificando a velocidade ou força dessa corrente de ar, [harmônicos] mais agudos [...] surgirão”. É possível extrair as cinco primeiras notas da série harmônica, porém os sons mais facilmente executados são as três primeiras.
Apresentado no período do Carnaval, o grupo musical, onde a gaita está inserida, acompanha um cortejo composto de pessoas com vestimentas que fazem alusão ao indígena da época do descobrimento, cuja representação da história do Brasil é contada através de pequenos diálogos, movimentos e danças. Guerra Peixe (1966: 140-1) descreve o ato: “a orquestra executa um baiano – que é o tipo de música dos Cabocolinhos; a Índia Chefe declama o seu trecho; segue-se o outro baiano; e daqui por diante começa mesmo a referida estória. Nos momentos de exaltação os músicos intervêm com passagens melódicas à guisa de música descritiva realmente funcional, passagens curtíssimas, executadas, também, como para encerrar uma estrofe ou um quadro”. A música apresentada no contexto do Caboclinhos é eminentemente instrumental.
Rayssa Claudino de Melo
Referências:
Guerra Peixe, César. 1966. Os cabocolinhos do Recife. In: Revista Brasileira do Folclore. 15/6: 135-58.
Madureira, Antônio José. 1980. Iniciação à música do Nordeste: através dos seus instrumentos, toques e cantos populares. Apostila datilografada não publicada. Brasília: Conselho Nacional de Pequisa – CNPq.
Sanchís Clemente, Marta. 2013. Aprendendo música como tupinambá: estudo sobre os processos de transmissão musical numa Tribo Indígena Carnavalesca no bairro de Mandacaru de João Pessoa. 160 f. Dissertação (Mestrado em Etnomusicologia) – Programa de Pós-Graduação em Música, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa.
Santos, Climério de Oliveira. 2007. Guerra - Uma introdução ao estudo da performance dos Caboclinhos Canindés. In: XVII CONGRESSO DA ANPPOM, São Paulo. Anais do Evento. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes, p. 1-13.
Vídeo do Brazil Instrumentarium sobre Gaita de Índio
https://www.youtube.com/watch?v=zpAJT8jQI_0
Rayssa Claudino de Melo