Notícias
Bastões de Maculelê
Bastões de Maculelê
Classificado como um Idiofone, é tocado pelos próprios executantes da dança do Maculelê que faz referência a uma luta vinda de uma cultura africana, sendo solidificado como expressão popular em Santo Amaro, na Bahia.
O bastão do Maculelê é considerado um Idiofone (1), tendo o som emitido através de sua solidez, sem haver tensão de membranas, ar ou cordas, 1.1. Percutidos: instrumento vibrado através da percussão, 1.1.1. Diretamente: através de um músico – cujo as sequências e força usadas é determinante para definir o resultado rítmico e de volume, 1.1.1.1. Entrechocados: duas partes sonoras entrechocadas, 1.1.1.1.1. Bastões [clavas].
Composto de madeira em formato cilíndrico, com aproximadamente 60 centímetros de comprimento e em torno de 2,5 cm de diâmetro, comumente, aproveitando-se de cabo de vassoura e, tradicionalmente, é feito da biriba (família Lecythidaceae), oriunda do bioma Amazônia e Mata Atlântica, conhecida pela sua robustez e resistência. ´Para tocar os executantes posicionam os bastões de forma cruzada. Os quais, posicionados de forma cruzada, podem ser percutidos a partir de entrechoque, gerando uma sonoridade de pouca reverberação.
No Brasil, este instrumento é tradicionalmente usado em uma expressão cultural chamada maculelê, onde dançarinos utilizando os bastões, fazem uma coreografia que fazem uma alusão a uma luta. Segundo mestre Popó (1876-1968), um dos expoentes da manifestação que se tem registro até o momento, o maculelê é definido como:
“... luta e dança ao mesmo tempo, se um feitor aparecia na senzala a noite, pensava que era a maneira de adoração aos deuses das terras deles (dos negros escravos), as músicas não davam ao feitor entender o que eles cantavam”.
A história dessa dança é controversa e incerta, cheia de histórias passadas através de uma tradição oral. Mas fato é que, apesar das dificuldades de entender sua origem com clareza, devido a questões materiais causadas pelas marcas colonialismo no Brasil, como por exemplo a falta de acesso a alfabetização por parte da população afro-descendente e falta de acesso a recursos fonográficos e midiáticos. Apesar disso, essa cultura se mantém firme e resiliente, tendo se reproduzido principalmente através da tradição oral.
Segundo a professora e historiadora Zilda Paim (ANO), o maculelê é oriundo de uma tradição africana, sendo visto como uma espécie de arte de guerra. Os Malés aguardavam seus inimigos chamados de Macuas (tribo nagô da África Ocidental) com pedaços de paus chamados de “lelés”. No Brasil vemos a fusão das palavras macuas e lelés, formando assim: “Maculelê”.
Podemos perceber a influência musical indigena e do candomblé, sendo muito presente também em grupos de capoeira. O grupo de capoeira Senzala, que foi criado na década de 60, é um dos mais conhecidos e influentes no Brasil, possuindo diversas escolas pelo país. Em sua página eletrônica há uma versão sobre a gênese do maculelê.
“Conta a lenda que a encenação do Maculelê baseia-se em um episódio épico
ocorrido numa aldeia primitiva do reino de Ioruba, em que, certa vez, saíram
todos juntos os guerreiros para caçar, permanecendo na aldeia apenas 22
homens, na maioria idosos, junto das mulheres e crianças. Disso aproveitou-
se uma tribo inimiga para atacar, com maior número de guerreiros. Os 22 homens remanescentes teriam então se armado de curtos bastões de pau e
enfrentado os invasores, demonstrando tanta coragem que conseguiram pô-
los em debandada. Quando retornaram os outros guerreiros, tomaram
conhecimento do ocorrido e promoveram grande festa, na qual os 22 homens
demonstraram a forma pela qual combateram os invasores. O episódio passou
então a ser comemorado frequentemente pelos membros da tribo, enriquecido
com música característica e movimentos corporais peculiares. A dança seria
assim uma homenagem à coragem daqueles bravos guerreiros.” (E.C.
GRUPO SENZALA, não datado)
Emília Biancardi (1989), uma pesquisadora muito influente nessa área, escreveu um livro chamado “Ôlelê Maculelê”, onde ela afirma que os registros que temos até hoje sobre o maculelê é oral, em grande parte. No documentário a “verdadeira história do maculelê, Biancardi conta que Paulo Almeida de Andrade (1876-1968) conhecido como mestre Popó, foi quem preservou e disseminou o maculelê por outras regiões do Brasil. Após aprender o maculelê tradicional com seus ancestrais, inclusive seu pai que era africano, recriou e definiu uma linguagem musical e coreográfica para o maculelê, inserindo elementos musicais do candomblé Congo-Angola.
É importante notar também que a cultura do maculelê e da capoeira estão ligadas, provavelmente porque o mestre Popó também era capoeirista. É possível ver movimentos de capoeira em rodas de maculelê como variação da dança, trazendo mais riqueza de movimentos, enquanto os bastões se entrechocam em ritmos que dialogam com os outros instrumentos da roda.
Referências
MORAES, Káthia Aurea da Silva. 2013. A Capoeira como matriz no aprendizado
de danças afro-brasileiras. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Graduação da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de
Campinas.
Texto escrito a partir de entrevista cedida em 16/12/1968 à Maria Mutti por Mestre Popó em Santo Amaro da Purificação - BAHIA. Disponível em: https://www.google.com/url?sa=t&source=web&rct=j&opi=89978449&url=https://www.ime.usp.br/~salles/ceaca/maculele/maculele.doc&ved=2ahUKEwj3kpq40q6GAxX9LrkGHWF9AVoQFnoECBIQAw&usg=AOvVaw1SPpOHTRe39_dmGAu6zwMO
Mutti, Maria: “Maculêle”, Santo Amaro da Purificação, 1968.
FERREIRA, Emília Biancardi. 1989. Olelê maculelê. Ed. Especial. Brasília: [s.n.].
Vídeo: A verdadeira história do Maculelê. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=dmC- iUbfzo>. Acesso em 02 de outubro de 2013.
Matheus Henrique
_____________________________________________
¹ Disponível em <https://capoeiraaltoastral.wordpress.com/sobre-capoeira/caixixi-reco-reco-e-agogo/>
Acesso em: 13 jun 2016