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Caixa de Marabaixo
Caixa de Marabaixo s. f. ou caixa guerreira é um tipo de caixa artesanal constituída de duas peles, sendo uma delas a de resposta, pois quando a membrana superior é percutida, faz com que vibre a inferior que possui tiras ou esteiras. A caixa de marabaixo no estado do Amapá é feita com madeira cavada ou materiais recicláveis e é o principal instrumento que guia, dá ritmo e sonoridade na tradição do Marabaixo.
A caixa de Marabaixo é feita, tradicionalmente, de macacaúba (Platymiscium trinitatis), uma madeira nobre, também pode ser feita de metal e madeira reciclada. Na sistematização organológica sua estrutura física e modo de tocar se encaixaria na classificação 2.1.1.2.1.2.1. (ver MONTAGU 2011, p. 4), pois trata-se de um membranofone percutido diretamente, sua caixa de ressonância possui formato tubular, cilíndrico, com membrana dupla, duas peles afixadas nas extremidades e tensionadas por meio de aros feitos de madeira flexível e é tocada de forma individual. É considerada de membrana dupla porque suas duas peles vibram. Segundo Weleda Freitas, essas membranas, tradicionalmente, são de couro, podendo ser de nylon.
O som é produzido pelo ato de percutir com duas baquetas na pele superior, fazendo com que as ondas formadas vibrem a pele de resposta. Rente a esta pele inferior há uma fita em nylon preenchida por miçangas denominada “esteira da caixa”, que é responsável pelo efeito sonoro peculiar ao instrumento, identificado pelos detentores como “resposta” da caixa” (FREITAS 2018, p. 24).
A caixa de marabaixo é essencialmente usada nas “tocadas de marabaixo” que acontecem principalmente na Festa do Divino Espírito Santo, que se inicia no sábado de aleluia e se estende até o dia de Corpus Christi. Esse período é conhecido como ciclo do marabaixo conforme Freitas explica:
Ciclo do Marabaixo, é caracterizado pelo acontecimento de vários rituais promovidos pelas associações de Marabaixo de Macapá, a saber: o Sábado do Mastro, dia em que os detentores de cada associação se dirigem para uma mata a fim de cortar uma árvore de tronco fino e comprido que servirá como mastro; o Domingo do Mastro, no qual o tronco percorre em cortejo as ruas dos bairros em que as festas ocorrem; a Quarta-feira da Murta, quando acontece um cortejo pelas ruas dos bairros com os ramos de murta na mão; a Quinta-feira da Hora, em que o mastro é enfeitado com a murta e levantado na frente da casa do festeiro ou nas respectivas associações; finalmente, para encerrar o Ciclo do ano, ocorre a Derrubada do Mastro, que acontece no último dia de festa, quando também é escolhido o festeiro para o ano seguinte. (FREITAS 2018, p. 7)
Além de ser uma manifestação religiosa o marabaixo também marca presença no carnaval amapaense. Os principais locais onde se vivencia o marabaixo são: no quilombo do Curiaú (área rural); nos bairros Central (antes chamado Favela) e no Laguinho. Todas essas localidades ficam na capital Macapá. No interior do estado temos a cidade de Mazagão como referência dentre outras cidades do interior do estado.
Cada localidade carrega seus sotaques nos toques da caixa. No quilombo do Curiaú ou Cria-ú, por exemplo, tem um toque mais lento, mais marcado. Em Mazagão existe outra variação um pouco mais rápida, dada a influência do Marrocos (Norte da África). A terceira variação vem mais do meio urbano representados pelos bairros da Favela e no laguinho, que tem uma sonoridade parecida com a do Curiaú, porém levemente acelerada, mais festiva, comemorativa (BASTOS, 2020, 5m45s).
Essas variações contam a história do tráfico negreiro para construção da fortaleza de São José, cantado e tocado nos sotaques da caixa de marabaixo, as suas origens do norte da África e do tráfico negreiro que vinham dos estados do Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Maranhão e Bahia (ACIOLLY; SALLES, 2012). “Falar de marabaixo é falar de cotidiano, é falar da essência, é falar da ancestralidade do povo daqui” afirmou Valdinete Costa (2020 aos 0’53”), representante da associação Berço do Marabaixo.
Referências
ACIOLLY, Sheila M.; SALLES, Sandro G. Marabaixo: identidade social e etnicidade na música negra do Amapá. 2012. Disponível em: https://www.academia.edu/644393/MARABAIXO_IDENTIDADE_SOCIAL_E_ETNICIDADE_NA_M%C3%9ASICA_NEGRA_DO_AMAP%C3%81. Acesso em: 27/05/2021.
BASTOS, Paulo. Como tocar a caixa do marabaixo. Vídeo da entrevista na oficina do mestre Bolão, Curiaú. 2014. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=GJNaCJYMOUc> acesso em: 30/05/2021
SAUNIER, Ygor. Vídeo da entrevista de Paulo Bastos e Patrícia Bastos. 2020. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=8W9LndPpLr4> acesso em: 10/06/2021.
COSTA, Valdinete. Vídeo “Carnaval 2020: Marabaixo é uma tradicional manifestação cultural do Amapá! ”. Disponível em https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=bp7DZ4dFsRY acesso em 01/06/2021.
FREITAS, Weleda de Fátima. 2018. Dossiê Marabaixo. Brasília: IPHAN. Disponível em <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/DOSSIE_MARABAIXO.pdf> Acesso em 26/05/2021.
Montagu, Jeremy et allii. Revision of the Hornbostel-Sachs Classification of Musical Instruments. MIMO Consortium. 2011. Disponível em http://www.mimo-international.com Acesso em 24/06/2021.
Para conhecer mais sobre o instrumento e a tradição ver:
Como tocar a caixa de marabaixo - https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=GJNaCJYMOUc
Ensaio | Patrícia Bastos | 08/06/2013 - https://www.youtube.com/watch?v=P9ap-LitB28&t=507s
Percursos da Tradição - Dança do Marabaixo - https://www.youtube.com/watch?v=Wmud0XEqN4s