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Pintura de Hermano José integra exposição sobre modernismo brasileiro no Sesc-SP

Exposição segue em cartaz até agosto de 2022 no Sesc 24 de Maio

publicado: 03/05/2022 13h00, última modificação: 03/05/2022 21h15

A pintura Circo Garcia (1954), de autoria do artista paraibano Hermano José, está integrando a mostra Raio-que-o-parta: ficções do moderno no Brasil, em exposição no Sesc 24 de Maio, em São Paulo. A ação de difusão da obra do artista foi realizada por meio de uma parceria entre o Museu Casa de Cultura Hermano José, a Sala Hermano José e a Pinacoteca UFPB, integrando a programação de comemorações do centenário do artista, que acontece ao longo do ano de 2022.  

A exposição ficará em exibição até o dia 7 de agosto de 2022. A curadoria é por conta dos pesquisadores Aldrin Figueiredo, Clarissa Diniz, Divino Sobral, Marcelo Campos, Paula Ramos e Raphael Fonseca e com consultoria de Fernanda Pitta. O objetivo da mostra é refletir criticamente sobre o centenário da Semana de 22, repensando a centralidade do evento a partir de uma ampliação cronológica e geográfica das manifestações modernistas, propondo ao público a certeza de que a noção de Arte Moderna no Brasil é tão diversa quanto as múltiplas culturas, sotaques e narrativas que compõem um país de dimensão continental. 

Circo Garcia - ExpoSPA inserção de “Circo Garcia” faz parte desta proposta de redimensionamento dos modernismos brasileiros externos ao eixo Rio-São Paulo. Sob resguardo da Pinacoteca-UFPB, a obra de 1954 é uma tela pintada à óleo que retrata um dos mais longevos e populares circos da história nacional. O artista chegou a fazer duas pinturas sobre o circo, uma mostrando o exterior, com suas lonas e contextualização espacial, e a outra, representando o picadeiro, com o espetáculo iniciado, sendo esta segunda tela a exposta na mostra.

A exposição é dividida em quatro núcleos temáticos, sendo a tela “Circo Garcia” componente do Terceiro Núcleo - “Eu vou reunir, eu vou guarnecer”, dedicado ao tema das festas, do espaço como liberdade e da diversidade cultural brasileira. Artistas modernos viram nas brincadeiras populares, em seus brincantes e suas formas de expressão o caminho do novo, do sentimento de identidade da aldeia e da metrópole. É como se, por meio da festa e da melancolia, fossem revisados os principais predicados do modernismo nacional, incluindo aqui uma imensa utopia pelo informal, espontâneo, descontraído, falado e distenso das ruas. Neste núcleo é possível ver a obra de Hermano José em diálogo com a de outros artistas, tais como Dimitri Ismailovitch, Djanira, Heitor dos Prazeres, DJ Oliveira, Franklin Cascaes, Eros Volúsia, Rubem Valentim, Lasar Segall, entre outros.

Circo Garcia - ExpoSP

Raphael Fonseca, coordenador geral da equipe de curadoria, relata que “a exposição não tenta desmerecer a Semana de 22, e sim, redimensioná-la. Como diversos eventos no Brasil foram peculiares, a Semana também foi, ou seja, ela não pode ser considerada uma régua para medir a Arte Moderna no Brasil. Assim, os artistas envolvidos como Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Victor Brecheret, Villa-Lobos, Oswald e Mário de Andrade podem ser enxergados de modo caleidoscópico com outras figuras. É um jogo de espelhos onde trazer vários nomes fora do eixo Rio-SP faz com que o público aprenda, assim como nós, novas leituras da história da arte com diversos protagonistas diferentes”.

Para o coordenador do Museu Casa de Cultura Hermano José (MCCHJ), Alexandre Santos, difundir a obra de Hermano José nos circuitos nacionais é uma forma de demonstrar a atualidade e vitalidade da sua produção para novas gerações, acessibilizando-a para a sociedade. ‘‘A obra de Hermano é também síntese da cultura paraibana, regional e brasileira. Ela nos remete a inúmeras questões, como a transformação das paisagens urbanas, a modernização das cidades, a degradação ambiental e a diversidade das expressões culturais do país, ecoando pensamentos típicos do modernismo. A presença de Hermano José nesta exposição o coloca em seu devido patamar, o de um artista representativo das artes nacionais’’. 

Além dos custos envolvidos para a garantia da obra na exposição, tais como transporte, seguro, courrier, entre outros, a parceria interinstitucional envolveu ainda o restauro da obra. “Apesar do excelente trabalho de conservação realizado pela Pinacoteca ao longo dos últimos anos, vale dizer que esta é uma obra de 1954, ou seja, possui 68 anos desde sua criação e cujo processo de conservação nem sempre foi feito com a qualidade atual. Esta condição exigiu algumas intervenções a nível de restauro. Felizmente, ganhamos todos nós, com uma obra tão significativa em perfeito estado, em plena condição de exposição e justamente no ano em que comemoramos o centenário desse grande artista”, explica o coordenador do MCCHJ.

Segundo o gestor, a participação de Hermano José nesta exposição é fruto da conjunção de vários atores. “Primeiro, fomos procurados por Dyógenes Chaves, parceiro nosso e sempre atencioso ao trabalho de Hermano. Dyógenes fez a ponte com a curadoria, que nos apresentou seu interesse. Em seguida, acionamos a Pinacoteca e a Sala Hermano José, que têm parte do acervo de Hermano José digitalizada, o que facilitou para os curadores da exposição. O MCCHJ foi, portanto, mediador dessa extensa parceria entre instituições e que resultou na presença de Hermano José nessa grande exposição”, relatou o gestor cultural.

Segundo a museóloga Marisa Pires, vice-coordenadora da Pinacoteca UFPB, o trabalho de conservação e digitalização foi fundamental. ‘‘É muito importante a difusão das obras de Hermano José e da arte paraibana em circuito nacional. Daí o nosso empenho em colocar todo acervo que está sob guarda da Sala Hermano José no site da Pinacoteca. E foi graças a essa página online que o curador da mostra tomou conhecimento dessa obra. Esse site é mantido com bolsistas de extensão e divulga não só nacionalmente, mas para o mundo todo o acervo de Hermano José e de toda a Pinacoteca que reúne grande parte do acervo mais importante de toda a universidade”.

Esta é a primeira vez que um processo de empréstimo, por meio de parceria entre instituições, formaliza a saída de uma obra do acervo da UFPB. O processo foi acompanhado pela Vice-reitora, Prof.ª Dr.ª Liana Filgueira Albuquerque, e o ato contou com a assinatura do Reitor da UFPB, Prof. Dr. Valdiney Veloso Gouveia.

A ação tem sido celebrada pois acontece no ano do centenário de Hermano José, nas prévias da abertura do Museu que tem por missão reconhecer sua história e legado. Com isso, a ação não apenas difunde e visibiliza sua obra, como também a reinsere no circuito nacional das artes visuais e promove seu restauro e conservação por meio de parcerias interinstitucionais.


Hermano José

Hermano Guedes de Melo, conhecido artisticamente por Hermano José, nasceu em 15 de Julho de 1922 no Engenho Baixa-Verde, em uma região pertencente ao município de Serraria, que fica situado na microrregião do Brejo, no estado da Paraíba. Durante sua vida atuou como pintor, desenhista, gravador, crítico de arte, cenógrafo, poeta, ilustrador, professor, ativista cultural e ecologista, sendo reconhecido como um dos artistas mais importantes da arte paraibana e nacional, incluído na geração representativa do modernismo na Paraíba.


Texto: Walter Arcela
Fotos: Rafael Salim