Você está aqui: Página Inicial > Contents > Notícias > NOTA A RESPEITO DA AUSÊNCIA DE DADOS E IMPRECISÕES NAS ATUALIZAÇÕES DIÁRIAS SOBRE A COVID-19 PELO GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA
conteúdo

Notícias

NOTA A RESPEITO DA AUSÊNCIA DE DADOS E IMPRECISÕES NAS ATUALIZAÇÕES DIÁRIAS SOBRE A COVID-19 PELO GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA

publicado: 07/05/2020 12h06, última modificação: 07/05/2020 12h06

Os dados divulgados diariamente pelos governos sobre o avanço da COVID-19 em seus territórios são fundamentais para o monitoramento da sua disseminação e produção de análises e cenários que contribuam com o entendimento e enfrentamento da pandemia. No caso específico do estado da Paraíba, as atualizações diárias fornecidas pelo governo estadual têm apresentado ausências e imprecisões nos dados publicados, o que revelaria falhas no processamento e na divulgação de informações cruciais para a realização de pesquisas e produção de análises. Corrigir tais inconsistências é essencial para que as pesquisas desenvolvidas pelas universidades possam contribuir para a decisões governamentais e da sociedade.

 

 

As atualizações diárias fornecidas pelos governos e secretarias estaduais a respeito do avanço da COVID-19 em seus respectivos territórios são fundamentais para o monitoramento da sua disseminação e produção de análises e cenários que contribuam com o entendimento e enfrentamento da pandemia, uma vez que subsidiam as pesquisas desenvolvidas pelas universidades que podem vir a contribuir para as decisões governamentais e da sociedade. Por vezes, o processamento e divulgação das informações diárias podem sofrer com a ausência de dados e imprecisões, como tem sido o caso das atualizações diárias do Governo do Estado da Paraíba.

 

O governo estadual tem utilizado o espaço “Sala de Imprensa” do seu site oficial para divulgar as atualizações diárias do avanço da COVID-19 no estado[1]. Desde o dia 22 de março de 2020, o governo tem fornecido diariamente novas informações a respeito da COVID-19.

 

O que se observa, ao longo do tempo, é que os informes iniciaram com um alto grau de detalhamento. Até o dia 08 de abril de 2020, por exemplo, era comum a divulgação de dados básicos da doença no estado[2], o detalhamento dos casos confirmados (com informações como sexo, idade, cidade e status dos casos) e o detalhamento dos óbitos confirmados (com sexo, idade, cidade e comorbidades). Entretanto, a partir de 09 de abril de 2020, as informações divulgadas passaram a consistir exclusivamente em dados básicos da doença no estado e o detalhamento dos óbitos confirmados.

 

Inicialmente, também era comum a correção de imprecisões existentes em uma atualização pelas atualizações seguintes, como aconteceu entre os dias 08 de abril e 10 de abril. Em 08 de abril, o governo divulgou a existência de casos confirmados em 10 municípios. Entretanto, após investigação, descobriu-se que um caso contabilizado em uma cidade residia, na verdade, em outra cidade. Tal correção foi realizada na atualização do dia 10 de abril.

 

Com o passar do tempo, a ausência de dados básicos da doença no estado e as imprecisões, sem posterior correção, passaram a ser mais frequentes. Os primeiros dados básicos que sofreram com a ausência nas atualizações diárias foram os casos em investigação e os óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARG) em investigação, a partir do dia 9 de abril. Ao final de abril, a partir do dia 28, os dados sobre casos confirmados hospitalizados, local de internação dos casos confirmados, casos confirmados em isolamento domiciliar, casos suspeitos internados em UTI e casos suspeitos em leitos regulares não foram mais informados pelo governo em suas atualizações. No que tange aos casos em investigações, estes passaram a ser relatados apenas nos boletins epidemiológicos da Secretaria de Saúde do Estado (SES), que são disponibilizados uma vez por semana.

 

A partir do final de abril, além da ausência de dados, também é possível identificar o crescimento no número de imprecisões que não foram posteriormente corrigidas. Na atualização do dia 28 de abril, constavam 699 casos confirmados no somatório geral. Entretanto, a soma dos casos confirmados dos 44 municípios correspondia a 698. No dia seguinte, 29 de abril, um caso contabilizado em Catingueira foi retirado do número de casos do município. Portanto, em 28 de abril eram dois casos em Catingueira e em 29 de abril era apenas um. O número geral de casos confirmados em 28 de abril, que com a eliminação da primeira imprecisão passou a 698, na verdade era 697.

 

No mesmo dia, a atualização informava 58 óbitos confirmados. Entretanto, um dos óbitos registrados no dia já havia sido contabilizado em 25 de abril. O óbito de um homem, 69, Brejo do Cruz, com hipertensão e histórico de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Tanto é que, na atualização do dia 29 de abril, foram registrados 5 novos óbitos e a soma geral de óbitos era de 62.

 

Em 30 de abril, a atualização informava que existiam 49 municípios com casos confirmados, mas o somatório dos municípios de forma individual mostrava a existência de casos confirmados em 53 municípios. No dia seguinte, em 01 de maio, os municípios de Cajazeiras, São João do Rio do Peixe e Umbuzeiro possuíam, respectivamente, 13, 15 e três casos confirmados. Em 02 de maio, Cajazeiras possuía 10 casos confirmados, São João do Rio do Peixe seis casos confirmados e Umbuzeiro dois casos confirmados.

 

O mais preocupante, em todos os casos de imprecisões relatados, tem sido a ausência de correções nas atualizações seguintes. Cabe então aos acadêmicos e pesquisadores identificarem os possíveis erros existentes no processamento e divulgação dos dados a respeito da progressão da COVID-19 no estado da Paraíba. Tais problemas - de ausência de dados básicos ou retardo na divulgação dos dados básicos, além da imprecisão dos mesmos - geram repercussão nas pesquisas desenvolvidas por acadêmicos e pesquisadores, uma vez que estes passam a ter acesso a uma menor quantidade de informações ao longo do tempo e, por vezes, precisam identificar quais imprecisões ocorreram no processamento e divulgação dos dados.

 

Além disso, as atualizações diárias falham ao não manter uma contagem do número de óbitos confirmados por municípios, tal qual aquela que tem sido produzida para os casos confirmados por municípios. Outros dados como casos recuperados e casos descartados também poderiam ser relatados de forma desagregada por município.

 

É necessário, portanto, que o governo estadual regularize o fluxo e a qualidade das informações divulgadas, que são tão importantes para o trabalho desenvolvido por acadêmicos e pesquisadores. Possivelmente, a origem de tais problemas no processamento e divulgação das informações esteja na estrutura organizacional adotada para gerir o fluxo de dados produzidos diariamente pelo sistema de saúde do estado. Caso assim seja, é fundamental repensar os meios utilizados para o tratamento e comunicação dos dados.

 

Ítalo Fittipaldi

Pesquisador do Núcleo de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

Universidade Federal da Paraíba

 

Barnabé Lucas de Oliveira Neto

Mestrando em Ciência Política e Relações Internacionais

Universidade Federal da Paraíba

 


[2] Entre os dados básicos estão: casos confirmados, óbitos confirmados, número de municípios com casos confirmados, casos confirmados hospitalizados, local de internação dos casos confirmados, casos confirmados em isolamento domiciliar, casos recuperados, casos suspeitos internados em UTI, casos suspeitos em leitos regulares, casos em investigação, óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em investigação e casos descartados.