Povo Potiguara

Do tronco Tupi, o povo Potiguara se concentra numa área do litoral norte paraibano, sendo o maior povo indígena do Nordeste brasileiro, com cerca de 17 mil pessoas em três municípios (Baía da Traição, Marcação e Rio Tinto), de acordo com os dados levantados pela Sesai, em 2022.
Os Potiguara são considerados um dos povos que possuem em seus históricos a característica de serem guerreiros e muito resistentes. Sendo assim, dando continuidade ao fio condutor da vida na Mãe Terra, os Potiguara existem e resistem, pois, de acordo com um forte lema:
Em Tupi Potiguara:

Asé o’ar,
asé oikobé,
asé omanõ,
iandé anama te
oikobé kó ybýpe
auieramanhẽ ne

Em Português:
A gente nasce,
a gente vive,
a gente morre,
mas nosso povo viverá nesta terra
para sempre.

 

 

LÍNGUA

 Os Potiguara fazem parte dos povos da família linguística Tupi. Hoje, falam o português e estão revitalizando o Tupi Potiguara, na Educação Escolar Indígena. Na última língua, Potiguara (Potĩguara) significa comedores de camarão (Silva, et.al. 2022). O processo de revitalização da língua possibilitou também em estudos e pesquisas sobre essa língua, sua composição sintática, seus diversos significados e, obviamente, a pronúncia. A exemplo dos estudos e atividades realizadas pelo professor, filólogo e lexicógrafo, Eduardo Navarro, em parceria com professores indígenas, especialmente da disciplina de Tupi.
Há um importante movimento nos Potiguara atualmente para recuperar elementos do Tupi a partir de informações do próprio povo, além do Tupi Geral que foi aprendido nos primeiros estudos de revitalização da língua, a cerca de 25 anos, como pode ser observado no livro Tupi Potiguara Kuapa.


 

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

  Mesmo tendo um longo contato com os não-indígenas, o povo e o território possuem uma significativa e simbólica riqueza histórica, cultural, religiosa, exclusivamente na sua sociodiversidade, mantendo assim, vivo na memória, o legado dos seus ancestrais. Apesar de herdar os resquícios da colonização, principalmente na Paraíba, um dos estados do Nordeste que enfrentou com os empreendimentos coloniais para povoação e conquista de território, provocando conflitos, embates e mortes dos povos indígenas que residiam na antiga capitania. No entanto, povos que são agentes da resistência, conseguiram se manter vivos e estruturados para preservar a sua história e todo o legado cultural. Mesmo não sendo perdidas por completo, passaram por algumas alterações fatídicas que proporcionaram alguns desajustes, a exemplo do Tupi, língua que muitos indígenas perderam a familiaridade. Há também as assimilações oriundas dos projetos indigenistas que provocaram mudanças social e culturalmente irremediáveis, principalmente com os infaustos projetos de branqueamento da nação brasileira. Portanto, estes e outros problemas que afligiram toda a conjuntura dos povos indígenas podem ser compreendidas através dos estudos de autores como Estevão Palitot, antropólogo e professor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Universidade Federal da Paraíba, que foca seus estudos e trabalhos sobre os povos indígenas do nordeste brasileiro.
Representação de mapa do Brasil de 1516 — Foto: Biblioteca Nacional da França/Reprodução/Tese de Sylvia Brito

 

 

 Um outro exemplo que possibilitou algumas mudanças na estrutura cultural e social dos Potiguara foi o empreendimento da Companhia de Tecidos Rio Tinto, no século XX, na Paraíba. Fundada pela família Lundgren, a filial se instaurou num território próximo às famílias potiguara que moravam no antigo aldeamento de Monte-mor, e desta fundação provocaram diversos problemas e modificações para que fosse possível a criação de Rio Tinto, a cidade fabril. Portanto, realizando desmatamentos e outros diversos problemas ecológicos, a fábrica de tecidos comunica uma visão triunfalista de industrialização, urbanização e modernidade (PALITOT, 2017). Desta forma, este é um dos episódios da história do Povo Potiguara, estes que sempre lidaram com questões relacionadas a problemas fundiários, envolvendo casos de discriminações e preconceitos, possibilitando diversos impasses para demarcações e homologações das terras, tornando, veementemente, uma intensa forma de ação do etnocídio. Entretanto, o povo Potiguara, provavelmente, é o único a habitar o mesmo território há mais de 500 anos, desde o contato com os colonizadores. (Cardoso, et.al. 2012).

Ilustração do mapa da terra indígena Potiguara. Disponível em: https://www.ufpb.br/portalpotiguara/livros/terra-indigena-potiguara/

 

TERRITÓRIO

O conjunto de aldeias constituem três Terras Indígenas (TIs) contíguas, com limites definidos de 33.757 hectares, comportando inclusive três áreas urbanas (Vila Monte-Mór (Rio Tinto), Marcação e Baía da Traição), além de existir um grande contingente de indígenas fora das TIs, nos municípios vizinhos de Mataraca, Mamanguape, João Pessoa, Bayeux e Cabedelo.

Das 33 aldeias que constituem o território Potiguara, uma aldeia está fora de qualquer área regularizada, Taiepe. A TI Potiguara, demarcada e homologada pela Funai em 1991, se sobrepõe aos municípios de Marcação e Baía da Traição, cobrindo 25 aldeias; Aldeia São Miguel, Aldeia São Francisco, Aldeia Alto do Tambá, Aldeia Forte, Aldeia Akajutibiró, Aldeia Cumaru, Aldeia Laranjeira, Aldeia Santa Rita, Aldeia Silva, Aldeia Benfica, Aldeia Tracoeira, Aldeia Lagoa do Mato, Aldeia Bento, Aldeia Tramataia, Aldeia Camurupim, Aldeia Brejinho, Aldeia Caeira, Aldeia Estiva Velha, Aldeia Val, Aldeia Grupiuna, Aldeia Jacaré de César, Aldeia Coqueirinho, Aldeia Carneira, Aldeia Silva de Belém e Aldeia Mata Escura. A TI Jacaré de São Domingos, demarcada e homologada pela Funai em 1993, se sobrepõe aos municípios de Marcação e Rio Tinto, cobrindo duas aldeias: Aldeia Jacaré de São Domingos e Aldeia Cândidos. E a TI Potiguara de Monte-Mór, demarcada contudo ainda aguardando homologação presidencial há mais de 40 anos, se sobrepondo apenas ao município de Marcação, cobrindo cinco aldeias: Aldeia Monte-Mór, Aldeia Jaraguá, Aldeia Três Rios, Aldeia Lagoa Grande e Aldeia Ybykuara.

O povo Potiguara tem um importante diálogo nas três esferas (municipal, estadual e federal) que impactam de forma positiva na construção de políticas públicas diversas.

O acesso é feito por várias estradas asfaltadas (BR-101 e PB-041) e de terra, que inclusive, recortam o território fazendo a ligação das aldeias entre si, e dessas com o
centro urbano, assim como pelo mar e os estuários dos rios Camaratuba e Mamanguape.

Para mais informações acerca do extenso território Potiguara, é indicado a leitura do Etnomapeamento dos Potiguara.

 

 

AMBIENTE E SUBSISTÊNCIAS

Considerando a dinamicidade deste povo e do território, citamos as principais formas de subsistência que perpetuam no território:

⦁ Comércio;
⦁ Trabalho na usina;
⦁ Plantio de cana-de-açúcar;
⦁ Plantio de roçados;
⦁ Carcinicultura;
⦁ Artesanato;
⦁ Viveiros de ostra;
⦁ Pesca;
⦁ Caça e demais atividades.

Para mais informações acerca das dinâmicas socioeconômicas dos Potiguara, é indicado a leitura do livro Etnomapeamento dos Potiguara.

 

Texto:
Fred Karakará
Luigi Junior Potiguara

Referências

BRITO, Sylvia Brandão Ramalho de. A sujeição política das terras do rio Paraíba: de uma sesmaria em uma capitania privada para uma capitania Régia. Fronteiras: Revista de História, Dourados, v. 24, n. 44, p. 132-149. jul. / dez. 2022, e-ISSN: 2175-0742.
CARDOSO, T. M.; GUIMARÃES, G. C. (Orgs.). Etnomapeamento dos Potiguara da Paraíba. Brasília: FUNAI/CGMT/CGETNO/CGGAM, 2012. (Série Experiências Indígenas, n. 2).
GUYRAAKANGA POTĨGUARA – ARAÚJO DA SILVA, J. R. Tupi Potiguara Kuapa — Conhecendo a língua Tupi Potiguara. João Pessoa: Governo da Paraíba, 2023.
MOONEN, F.; MAIA, L. M. Etnohistória dos índios Potiguara: ensaios, relatos, documentos. João Pessoa: PR/PB Secretaria da Educação e Cultura do Estado da Paraíba, 1992.
NASCIMENTO, José Mateus do. (org.). Etnoeducação potiguara: pedagogia da Existência e das Tradições. 2ª. ed. – João Pessoa: Ideia, 2017.
PALITOT, Estevão Martins. Os Potiguara de Monte-Mor e a cidade de Rio Tinto: a mobilização indígena como reescrita da história. REIA: Revista de Estudos e Investigações Antropológicas, UFPE. Pernambuco, 2017.