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Vendo a crise do coronavírus pela ótica da pedagogia popular

Texto originalmente publicado na nova lista de discussão da Rede de Educação popular em Saúde do Google
publicado: 27/12/2019 17h59, última modificação: 17/03/2020 19h37
nova imagem do corona

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É impressionante a mobilização de posicionamentos, troca de informações, avaliações e impressões pessoais desencadeada pela epidemia. Há muito não via algo tão gigantesco nesse sentido. As redes sociais potencializaram esse diálogo.
Até questões surpreendentes surgiram: A epidemia seria uma ação planejada do chineses ou do imperialismo norte americano? Um falso e exagerado alarde com objetivos econômicos e políticos? 
Especialistas, profissionais diversos, blogueiros, políticos, cidadãos doentes ou com medo, entidades institucionais vem trazendo posicionamentos contraditórios e diversos. Em geral se posicionam com firmeza categórica. Afinal mostrar autoridade de ter a palavra definitiva ajuda a ser mais respeitado e divulgado nas redes sociais. As pessoas estão inseguras e gostam de resposta seguras. Mas, as horas passam, fatos e avaliações novas surgem e a segurança do último post é superada. Mas a busca por visibilidade e prestígio nas mídias sociais vai encontrando novas formas de acontecer. 
Estou fascinado com esse intenso diálogo social gerado. E não é algo apenas teórico, pois está gerando ações concretas e amplas nas instituições, na convivência social e na vida pessoal. Diálogo social globalizado em nível nunca antes visto. Mas com espaço restrito para as vozes e considerações dos atores populares. 
Nós, da Educação Popular em Saúde, lançamos o conceito de construção compartilhada do conhecimento e da solução sanitária necessária (inicialmente lançado, em 2001, no livro A Saúde nas Palavras e nos Gestos por Maria Alice Pessanha, Sônia Acioli e Eduardo Stotz) . Nós tínhamos um certo monopólio na operacionalização dessa proposta nos serviços de saúde e na vida comunitária local. Mas agora, estamos assistindo e nos surpreendendo com ela ocorrendo global e intensamente, totalmente fora do nosso controle. O que temos para contribuir???  O que está faltando para ter a perspectiva emancipatória da EP?
Talvez não tenhamos tanto a contribuir na formação de novos posicionamentos técnicos nessa questão. Em que então podemos contribuir agora?  Talvez trazendo mais à tona os significados, muitos vezes surpreendentes, da dinâmica de aprendizagem popular nesse processo. Olhar mais para os aprendizados que estão acontecendo junto aos públicos mais silenciados e oprimidos. Não tanto entrando na disputa por ocupar maior espaço na luta por reconhecimento de prestígio nesse espaço já tão cheio de análises firmes e seguras das redes sociais. Mas, aproximando ainda mais, nesse momento de crise social, para ouvir, entender e dar visibilidade social às falas, ansiedades, dúvidas e interesses do mundo popular. Procurando torná-las também protagonistas nesse intenso diálogo social.