Você está aqui: Página Inicial > Contents > Notícias > Pesquisadores Cearenses Participam de Estudo da OMS em Novo Tratamento da Sífilis
conteúdo

Notícias

Pesquisadores Cearenses Participam de Estudo da OMS em Novo Tratamento da Sífilis

País vive epidemia de sífilis e escassez em relação ao único remédio capaz de tratar mulheres grávidas infectadas. Estudo pretende encontrar nova droga para cuidar de gestantes e evitar transmissão para o bebê

publicado: 09/08/2019 09h56, última modificação: 09/08/2019 10h01

Para testar a eficácia de um tratamento alternativo para a sífilis, cientistas brasileiros e membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) farão pesquisa inédita com o medicamento cefixima. Um dos estados participantes do estudo é o Ceará. Pesquisadores da Universidade de Fortaleza (Unifor) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) trabalharão juntos para avaliar os efeitos da droga, na primeira fase, em 200 mulheres não grávidas durante cerca de dois anos. Após este período, o objetivo é descobrir outras formas de tratar a doença em gestantes e prevenir novos casos de sífilis congênita em recém-nascidos.

O Brasil é um dos diversos países que têm números alarmantes de casos de sífilis, entre homens, mulheres não grávidas e gestantes. Em 2010, quando o registro de diagnóstico da doença passou a ser obrigatório, o País tinha 2 casos por 100 mil habitantes. Em 2016, o número passou a ser de 58,1 casos para 100 mil pessoas. A soma de todos os casos notificados no Brasil em 2017 é 119.800, sendo 1.692 no Ceará. Os dados são do Boletim Epidemiológico de Sífilis de 2018 divulgado pelo Ministério da Saúde.

Causada pela bactéria treponema pallidum, a doença é uma infecção sexualmente transmissível que causa feridas na região contaminada, febre, mal estar e manchas no corpo. A longo prazo, a sífilis pode causar problemas cardiovasculares e neurológicos. Se transmitida da mãe para o bebê, a criança pode nascer com problemas ósseos, deficiência mental ou cegueira em decorrência da sífilis congênita. Foram registrados 24.666 desses casos em 2017. Para evitar consequências extremas, a gestante deve receber medicamentos ainda no primeiro trimestre da gravidez. No entanto, a escassez de penicilina, droga capaz de tratar mulheres grávidas com a infecção, tem dificultado o tratamento.

“Nós temos problemas para conseguir penicilina porque só é feita na China e, muitas vezes, o governo restringe a produção, ou as práticas de fabricação não são tão boas. Por isso precisamos de uma droga alternativa”, explica Melanie Taylor, membro do Departamento de Saúde Reprodutiva e Pesquisa da OMS. A médica afirma que o Brasil foi escolhido para sediar a primeira fase da pesquisa por ter muitos casos da doença, mas também por ter dificuldade para adquirir penicilina. “Além disso, o Brasil tem bons grupos de pesquisa que tem experiência em doenças infecciosas”, diz. Os custos do estudo serão divididos entre a organização e o Ministério da Saúde.

A PESQUISA

No Ceará, a pesquisa será coordenada pela professora Maria Alix Leite Araújo, da Unifor, e subcoordenada pelo professor Ivo Castelo Branco, do núcleo de Medicina Tropical da UFC. Universidades do Espírito Santo e do Rio Grande do Sul também participarão do projeto. Em Fortaleza, as voluntárias serão tratadas com a cefexima no Ambulatório de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) da UFC, no Centro de Saúde Meireles e no Centro de Saúde Carlos Ribeiro.

Para participar, as pacientes terão que assinar termos de consentimento ao tratamento e ficarão em observação. O grupo de voluntárias será formado por mulheres já atendidas no ambulatório. Todos os dados colhidos serão levados para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) e depois enviados para outro laboratório em Florianópolis, em Santa Catarina.

O MEDICAMENTO

A cefixima é utilizada mundialmente para o tratamento de outras doenças sexualmente transmissíveis, como a gonorreia. No entanto, é a primeira vez que a droga é testada para tratar a sífilis. De acordo com o professor Ivo Castelo Branco, o medicamento deixou de ser vendido no Brasil e há pouco interesse das empresas em fornecê-lo devido ao alto custo. Atualmente, não há registros válidos desse fármaco na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Em 2018, uma audiência pública foi realizada em Brasília, a pedido do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites, com empresas que poderiam fornecer o medicamento para discutir o porquê da cefixima não ser comercializada no Brasil. Se o estudo realizado com a droga comprovar bons resultados, as chances de voltar a ser utilizada pelos brasileiros é maior.

Fonte: Portal O Povo OnLine