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Cientistas da UFPB aumentam produção de tilápia com suplementação de selênio
Cientistas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) conseguiram melhorar a produção da tilápia-do-Nilo com suplementação de selênio, elemento químico essencial para a maioria das formas de vida. A tilápia-do-Nilo é um peixe africano da família Cichlidae, conhecido pelos antigos egípcios já em 2000 a.C.
No estudo, o uso de apenas 0,6g do micromineral na fase pós-larvas, independente da fonte utilizada, foi capaz de aumentar a altura e a largura do peixe e, consequentemente, a quantidade de filé para comercialização.
O pós-larvas é uma das fases mais importantes e críticas para o desenvolvimento da tilápia-do-Nilo e acontece logo após a de eclosão, designação dada nas Ciências Biológicas ao momento em que as crias de determinados animais começam a se libertar do ovo ou do casulo, estando prontas para nascer.
Segundo o pesquisador João Marcos Monteiro Batista, egresso do curso de mestrado acadêmico do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, do Centro de Ciências Agrárias da UFPB, e um dos responsáveis pelo estudo, que teve como orientador o Prof. Leonardo Augusto Fonseca Pascoal, a larvicultura de peixes geralmente tem duração de três dias, período no qual os animais aquáticos ainda não têm boca e cavidades operculares abertas e se alimentam exclusivamente do saco vitelínico.
“É na fase pós-larvas que ocorre o crescimento dos peixes. Ela tem um período de duração de 30 dias. Depois disso, os animais entram no estágio de alevinagem, onde os filhotes já se assemelham aos adultos da espécie, atingindo tamanho e peso ideal para comercialização”, explica o cientista.
Conforme João Batista, se um peixe não recebe uma nutrição adequada no pós-larvas, por meio de dieta com suplementação de selênio, por exemplo, seu sistema imunológico pode não evoluir de forma ideal, condição propícia para o desenvolvimento de doenças que podem acarretar sua morte ou para se tornar vetor de patologias infectocontagiosas para outros animais da mesma espécie, em um sistema de criação.
“Ainda que não sejam acometidos por alguma doença, esses animais não apresentam um desempenho eficiente como os que recebem nutrição balanceada desde os primeiros dias de vida. O insucesso na fase pós-larvas pode afetar todas as outras subsequentes”, destaca o pesquisador.
De acordo com João Batista, o selênio atua na redução dos efeitos antioxidantes, fornecendo substrato para a glutationa-peroxidase, enzima fundamental no ciclo de inativação dos efeitos antioxidantes. Ela é extraída de plantas, frutos e sementes, como a castanha-do-Pará, leveduras e algas.
O cientista também salienta que a tilápia-do-Nilo é um peixe extremamente resistente a diversidades de ambientes, dietas e oxigenações da água, sendo consumido praticamente em todo o mundo, desde a antiguidade. Do mesmo modo, evidencia que, mercadologicamente, a tilápia-do-Nilo é interessante devido ao fato de ser rústica, saborosa e de ter crescimento rápido, tudo isso culminando em uma ótima aceitação nas mesas dos consumidores.
“No estudo da histologia da musculatura dos peixes, tivemos o objetivo de observar se os feixes e compartimentos de formação apresentariam melhora na sua estrutura com a suplementação do selenito de sódio. Fomos bem-sucedidos e, agora, nossos produtores poderão ofertar maior quantidade de filé ao mercado”, comemora o pesquisador.
Para os experimentos com 1.260 pós-larvas com peso médio inicial de 0,010 g, foi elaborado um desenho estatístico para reduzir os efeitos adversos e permitir, em uma única avaliação, a utilização de produtos diferentes, em diversos níveis, com o intuito de observar suas interações com o organismo dos animais, a partir de variáveis de desempenho como ganho de peso e eficiência proteica.
Esses testes foram realizados seguindo os parâmetros físico-químicos de qualidade da água recomendados para o cultivo de tilápias, entre eles oxigênio dissolvido, pH, alcalinidade e dureza. Um grupo de peixes não recebeu suplementação de selênio, sendo dados a ele apenas os nutrientes-base da dieta, a fim de comparação. Tecnicamente, esse grupo é chamado de controle negativo.
Na pesquisa, a análise do índice hepatossomático, percentual de massa do fígado em relação ao peso corporal, que é uma forma de quantificar o estoque de energia de um animal, foi central, porque permitiu observar se houve algum estresse nutricional. Essa anormalidade, que não foi identificada no estudo, geralmente faz com que o fígado cresça de tamanho, com o intento de metabolizar mais nutrientes.
João Batista ressalta que a metodologia aplicada poderá beneficiar sistemas de produção intensificados, em que os peixes são criados em condições de alta lotação por metros cúbicos de água, por exemplo, em tanques-redes de dois a três metros cúbicos e com uma taxa de lotação de 600 a 900 peixes por tanque.
“Em um sistema de produção intensificado, há limitação de alguns minerais como o selênio porque, apesar de esse mineral ser encontrado na água, a utilizada pode, muitas vezes, não atender às exigências de determinada fase de crescimento, ainda que sejam demandados em baixas quantidades. Além disso, o selênio é consumido por outros tipos de peixes e de plantas, podendo haver uma concorrência por esse elemento químico em determinado meio”, esclarece o zootecnista.
De acordo com o Atlas do Consumo e da Produção de Tilápia no Brasil, elaborado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e publicado em 2018, a ampliação do consumo de peixe no Brasil está associada à busca por uma alimentação mais equilibrada e de maior valor nutricional. No país, o consumo anual está na média de 11,0 quilos por habitante, maior valor já apurado.
Além de João Batista, o estudo contou com a colaboração dos pesquisadores Leonardo Pascoal, José Humberto Vilar da Silva, Veruska Gomes, Alda Amâncio, Ricardo Guerra, Jorge Almeida, Chimenes Araújo, Jonathan Almeida e Jairo Santos.
Os resultados da pesquisa foram divulgados para a comunidade científica por meio do periódico Semina, publicação bimestral que promove a ciência e tecnologia e é associada à Universidade Estadual de Londrina.