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Estudo aponta que na Amazônia o desmatamento cai, mas queimadas aumentam
Um artigo publicado na revista Nature Ecology & Evolution revelou tendências contrastantes na Amazônia Brasileira, com uma diminuição nas taxas de desmatamento ao mesmo tempo que há um aumento no número de incêndios não controlados. A pesquisa foi realizada por um grupo de cientistas de diversas instituições nacionais e internacionais, do qual faz parte o professor Celso A. G. Santos, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Um dos dados positivos é que os alertas de desmatamento caíram 42% de janeiro a julho de 2023 em comparação com o mesmo período de 2022 e que as principais operações de mineração ilegal que ameaçam o ecossistema e as comunidades indígenas estão sendo restringidas. De acordo com os pesquisadores, a redução no desmatamento segue ações políticas e de fiscalização realizadas pelo governo brasileiro, a partir do restabelecimento do Plano de Ação para Prevenir e Controlar o Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm).
Os pesquisadores analisaram os dados da plataforma Terra Brasilis do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que fornece mapas interativos de dados sobre desmatamento, mudanças na cobertura florestal e incêndios ativos nos biomas Amazônia e Cerrado e, a partir disso, identificaram resultados importantes sobre a preservação da Amazônia.
Contrariando a queda no desmatamento houve um aumento no número de incêndios ativos, e em junho de 2023 foi feito o registro mais alto desde 2007. A seca e as ondas de calor no âmbito das alterações climáticas, combinadas com o desmatamento impulsionado em grande parte pelo agronegócio, transformaram o fogo numa das principais causas de degradação e perda florestal na Amazônia.
Em junho de 2023, o número de incêndios ativos na Amazônia atingiu 3.075, o maior para este mês desde junho de 2007, que teve 3.519 incêndios. A contagem total de incêndios no primeiro semestre de 2023 foi de 8.344, 10,76% superior aos 7.533 incêndios durante os primeiros seis meses de 2022.
De acordo com Celso Santos, a montagem do grupo de pesquisadores foi estratégica e orgânica, facilitada por meio de redes acadêmicas e colaborações anteriores entre alguns dos autores-chave, com o objetivo de comentar uma abordagem multidisciplinar para uma questão complexa
"Dada a natureza multifacetada das mudanças ambientais na Amazônia, a colaboração buscou incorporar expertise de várias disciplinas científicas, incluindo Ciências da Terra, Geografia, Silvicultura, Engenharia Civil e Ambiental, Ciência Atmosférica, Economia e Ciência Política, entre outros”, explicou o professor
O que explica a diferença
A análise dos pesquisadores destaca que apenas 19% dos incêndios de 2023 estão ligados ao desmatamento recente, indicando uma mudança com tendência de dissociação entre incêndios florestais e desmatamento.
Para os pesquisadores, o aumento dos incêndios em um contexto de diminuição do desmatamento também está relacionado às condições climáticas mais quentes e secas resultantes do El Niño de 2023 com potencial para aumentar os incêndios, consistentes com El Niños anteriores.
Além disso o trabalho aponta o efeito retardado do aumento do desmatamento em anos anteriores, haja vista que algumas áreas de floresta que foram derrubadas mecanicamente nos últimos anos só agora estão ficando secas o suficiente para serem queimadas. E as queimadas em pastagens no início da estação seca, realizada por produtores locais em áreas de pasto nativo ou cultivado.
Para reverter esses dados, o trabalho indica a necessidade de ações científicas e de gestão diferenciadas, incluindo a reflorestação, a gestão florestal e a agrossilvicultura, para evitar o risco de incêndios florestais descontrolados e de degradação que está dissociada ao desmatamento.
Efeitos do fogo
Os pesquisadores vislumbram que as consequências da inação sobre os incêndios florestais na Amazônia e da desatenção aos tipos e causas dos incêndios são graves e devem ser evitadas. Estas incluem emissões consideráveis de carbono provenientes da queima de florestas e dos gases do efeito estufa que contribuem ainda mais para as mudanças climáticas.
Além disso, as perdas da biodiversidade local impactam nos serviços ecossistêmicos que apoiam a diversidade biocultural e a bioeconomia da região.
Os efeitos também podem ser vistos na saúde humana, pois a poluição causa problemas respiratórios e pode prejudicar os meios de subsistência e o bem-estar, sobretudo dos povos indígenas e das comunidades locais, aumentando a mortalidade humana, a morbilidade e a depressão.
A colaboração para a pesquisa inclui cientistas de diversas instituições. Do Brasil, os contribuintes são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal de Campina Grande, Universidade Estadual de Mato Grosso, Universidade Federal do Amapá, entre outras. Internacionalmente, acadêmicos da Universidade do Sul do Alabama, Universidade de East Anglia, Universidade Estadual de Michigan, Universidade do Kansas, Universidade de Yale e Universidade de St Gallen contribuem com o trabalho.
Para Celso Santos, a participação da UFPB em estudos relacionados à Amazônia é de crucial importância em múltiplos aspectos, pois amplia o escopo geográfico e temático da investigação científica da UFPB, dissemina expertise especializada, alinha-se com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e amplia a rede de colaboração interinstitucional.
“A participação da UFPB em estudos relacionados à Amazônia não é apenas uma contribuição acadêmica, mas também uma necessidade sociopolítica e ambiental, que reflete o compromisso da instituição com a geração de conhecimento aplicável e com impacto real”, disse Santos.
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Texto: Elidiane Poquiviqui
Edição: Aline Lins
Foto: Divulgação
Ascom/UFPB