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Pesquisadores da UFPB registram formigas roubando comida de escorpião
Pesquisadores do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) registraram um acontecimento biológico inédito, em que formigas da espécie Pheidole radoszkowskii roubaram a presa do escorpião Bothriurus asper – uma espécie bem maior que elas. O fato aconteceu durante uma coleta noturna, em 12 de julho de 2019, no fragmento de bioma Caatinga, situado no município de Parnamirim, sertão pernambucano.
Na biologia, o comportamento é conhecido como Cleptobiose, fenômeno raro que consiste no roubo de presas por causa da escassez de alimentos no ambiente. Neste mês de julho, o registro será publicado em forma de artigo na revista estadunidense Proceedings of the Entomological Society of Washington, com o título “A União faz a força: formigas roubam presa de um escorpião”.
A pesquisa teve a participação de Welton Dionisio da Silva (doutorando), Igor Nascimento Souza (Graduado), Luís Paulo Araujo da Silva (Mestre) e Tarcísio Viana Silva Filho (Graduando). Todos fazem parte do Laboratório de Entomologia, localizado no Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN), no campus I, em João Pessoa.
No trabalho científico foi discutida a importância e as condições em que ocorre o comportamento de roubo de alimentos. Segundo Welton Dionísio, principal autor do estudo, esse hábito não prejudica o ecossistema, pois é a forma que os organismos encontram para sobreviver.
“Na Caatinga, durante o período seco, é comum ter poucos recursos ambientais e alimentares. Portanto, a competição por alimento é mais acirrada”, explicou.
A publicação tem como objetivo enriquecer o conhecimento ecológico e comportamental destes animais. Além disso, traz novas informações sobre os hábitos de forrageio, que corresponde à busca e à exploração de recursos alimentares.
Welton contou que durante a noite, horário de atividade dos escorpiões, é comum encontrá-los se alimentando de presas capturadas. No entanto, desta vez, deparou-se com uma interação incomum. Enquanto o escorpião comia uma lacraia viva, havia um grupo de pequenas formigas unindo-se para atacá-lo.
“De imediato, eu e meus amigos começamos a filmar. Mesmo em desvantagem no tamanho, as formigas se juntaram e iniciaram um ataque em grupo, afugentando ele e fugindo com a presa no final da interação”, relatou Welton.
A duração total do conflito foi de 2 minutos e 23 segundos. Embora o escorpião tenha utilizado suas pinças, abdômen e ferrão para atacar os pequenos insetos, ele foi malsucedido em sua defesa. “Observando a interação, ficou claro para nós que se tratava de um comportamento de cleptobiose”.
De acordo com o pesquisador, alguns artrópodes, principalmente os sociais (como abelhas e formigas), podem unir forças com outros indivíduos de sua colônia para roubar a presa de um competidor. O fato ocorre, principalmente, entre colônias diferentes, sejam da mesma espécie ou não.
Algumas são capazes até mesmo de “imitar” o cheiro desses competidores para roubar seus alimentos sem que estes percebam que trata-se de um indivíduo de outra colônia. Contudo, essa foi a primeira vez que foi observado o roubo de presa de um escorpião por estes animais.
“Em nossa observação, ele reconhecia as formigas como ameaça, ou seja, elas não estavam mimetizando o cheiro dele. Nessas condições, um ataque das formigas em grupo contra um predador maior pode acarretar na morte de vários indivíduos”, disse Welton Dionísio.
Apesar de os escorpiões consumirem formigas, trabalhos recentes têm mostrado formigas que são capazes de matar e se alimentar deles, seja por ação individual ou em grupo. O fenômeno da Cleptobiose também pode acontecer, por exemplo, com a espécie de formiga Mycetarotes parallelus, que rouba fezes animais coletadas por uma espécie congenérica – do mesmo gênero. Elas usam o excremento para cultivar fungos e alimentar a colônia inteira.