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Projeto da UFPB desenvolve novo modelo de ecofossa que permite reúso de água após tratamento de efluentes de esgoto
Professores e alunos de um projeto de extensão do Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) desenvolveram um novo modelo de tanque de evapotranspiração (TEVap), as chamadas ecofossas, denominado TEWetland. A inovação, que já teve a solicitação de registro de patente encaminhada, permite um melhor e maior tratamento de efluentes de esgoto e reúso da água, em comparação aos tanques de evapotranspiração mais comuns.
A invenção partiu do projeto de extensão “saneamento básico ecológico para diminuir impactos aos corpos hídricos e lençol freático”, conhecido como projeto ecofossas, que é coordenado pela bióloga e professora do Departamento de Ciências Biológicas Cristina Crispim, e o novo modelo de ecofossa foi desenvolvido junto com os alunos do curso de Engenharia Ambiental José Kaio da Silva de Freitas e o Gheizon Raunny Silva. A atuação do projeto tem como base as atividades de saneamento básico ecológico desenvolvido no laboratório de Ecologia Aquática da UFPB.
Um tanque de evapotranspiração é um tipo de fossa ecológica. O tanque escavado no solo é impermeabilizado e preenchido com camadas de diferentes substratos, como areia e brita, e coberto por vegetais de crescimento rápido, bananeiras ou mamoeiros. O TEVap faz o tratamento adequado do esgoto doméstico com degradação da matéria orgânica por microorganismos, com a redução ou remoção da contaminação do ambiente feita por organismos vivos; além de filtragem física, absorção de nutrientes pelas plantas e evapotranspiração da água.
Segundo a pesquisadora, o uso de ecofossas é adequado tanto para a área urbana quanto para a área rural, mas deve ser limitado ao tratamento de esgoto doméstico, haja vista que efluentes industriais, por exemplo, podem ter compostos tóxicos e como o sistema de tratamento desse tipo de tanque é biológico, os seres vivos, microorganismos e plantas não podem receber efluentes tóxicos.
Já a invenção do grupo do projeto de pesquisa une o tratamento de efluentes de esgoto por TEVap com o wetland, em um modelo inédito. O wetland é um sistema de filtração com plantas, que usa determinado substrato e plantas macrófitas para absorver os nutrientes e tratar os efluentes. No novo modelo desenvolvido pelo Ecofossas, o TWEtland, além de juntar o TEVap e o Wetland, os pesquisadores criaram um sistema de drenagem e realizaram a adaptação do dimensionamento do tanque para tratamento de efluentes de esgoto.
Para a professora Cristina Crispim, a criação TEWetland é a evolução do Tevap, pois permite coletar e tratar esgoto comunitário, como, por exemplo, de uma rua inteira ou bairro, haja vista que muitas casas não possuem quintal para a construção de um Tevap.
“Vimos também a possibilidade de tratar águas juntas, as negras e as cinzas (águas servidas, de lavagem), porque muitos municípios coletam os esgotos, lançam em canais que são enviados para rios, assim, as águas são coletadas juntas, mas não são tratadas. O TEWetland resolveria essa situação também, já que o TEvap trabalha apenas com as negras”, explicou Crispim.
Conforme a docente, o TEWetland tem uma atuação primária semelhante ao TEvap, com tratamento biológico anaeróbio, aeróbio, filtração, absorção de nutrientes, produção de alimentos e evapotranspiração da água excedente, mas para além disso, trata águas misturadas. A pesquisadora esclarece que a maior diferença do modelo desenvolvido é que o TEWetland gera água para reúso, ao contrário do TEvap, que evapora toda a água que não é usada na produção de alimentos.
“Esse efluente de água tratada gerada é de boa qualidade de reúso para diversos fins, também produz alimentos sobre ela e, como as dimensões são maiores, poderão ser criadas hortas comunitárias sobre estes sistemas de tratamento biológico de esgoto doméstico, pois além da fossa principal que faz esse tratamento primário, o efluente passa por um sistema de wetland construído para melhorar mais ainda a água para o reúso”, completa a coordenadora do projeto.
A coordenadora do projeto conta que uma demanda do município de Bananeiras para o tratamento com ecofossas para 610 casas foi o pontapé inicial para a elaboração do projeto. Assim, foi pensado, desenhado e construído um protótipo, apenas da parte da fossa, sem a wetland, com o apoio da Prefeitura de Ingá. O resultado foi que a qualidade de água que saiu no efluente já tinha potencial para reúso.
“Minhas expectativas são as melhores possíveis porque vejo que um sistema de tratamento de esgoto que realize o tratamento adequado e não lance efluentes ricos em nutrientes e coliformes, como acontecem com os efluentes de Estações de Tratamento de Esgoto, é muito bom. Além disso, gerará água para ser usada para diversos fins e ainda poderá ser usada em cima, para a produção de hortas comunitárias”, explicou a professora.
Está previsto para o primeiro semestre de 2022 a construção de um protótipo completo do TEWetland em parceria com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Conforme a coordenadora do projeto, haverá a construção de quatro equipamentos – nos municípios de Alhandra, Boqueirão, Congo e Solânea –, localizados em quatro regiões diferentes do Estado, para verificar a eficiência do sistema e a qualidade do efluente, em tipos diferentes de solo, a fim de identificar os tipos de reúso possíveis para a água tratada.