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UFPB concede o título Doutor Honoris Causa ao grande poeta Zé de Cazuza, aos 94 anos

publicado: 28/08/2024 12h19, última modificação: 28/08/2024 12h19
Natural de Monteiro, no Cariri, poeta conhecido como “Homem Gravador” recebe o reconhecimento por sua contribuição à cultura paraibana

Foto: Angélica Gouveia

O poeta e artesão José Nunes Filho, conhecido popularmente como Zé de Cazuza, de 94 anos, recebeu, na noite desta terça-feira (27), o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A solenidade, ocorrida no auditório da Reitoria, foi presidida pela Vice-reitora Liana Filgueira e prestigiada por artistas, professores, admiradores, familiares e amigos do homenageado, que é natural da cidade de Monteiro, no Cariri da Paraíba. 

Zé de Cazuza também é conhecido como "Homem Gravador", por sua capacidade de memorizar versos de cantorias em uma época sem gravadores. Foi graças a essa habilidade que muitos de seus versos foram preservados, evitando que se perdessem ao longo do tempo. Além disso, a publicação do livro "Poetas Encantadores", na década de 2000, tornou possível a preservação, de forma física, de poemas cujos versos nunca foram documentados.

A honraria, aprovada por unanimidade pelo Conselho Universitário (Consuni) da UFPB em abril deste ano, foi proposta pelo professor Gilmar Leite, do Departamento de Educação do Centro de Ciências Aplicadas e Educação (CCAE). Segundo ele, o título é um reconhecimento pelos 50 anos dedicados por Zé de Cazuza à preservação do patrimônio poético do sertão e à educação das pessoas por meio da poesia. “Zé de Cazuza é uma escola educativa, literária, antropológica. Ele é o primeiro e o único a ter guardado na memória tantos versos do século passado, dos anos 50, e 60, ele criou uma escola, então ele é um educador, não de conteúdos pragmáticos, acadêmicos, mas de conteúdos poéticos, sensitivos, culturais”, explica o docente que propôs a homenagem.  

Durante a solenidade, o homenageado foi fortemente aplaudido ao declamar a sua poesia. Segundo Zé de Cazuza, a poesia é sua vida. “Sem isso aí eu já tinha morrido”, afirma.

A cerimônia de entrega do título foi abrilhantada, ainda, pela apresentação realizada por um dos filhos do homenageado, Miguel Marcondes, que ao som da viola cantou a música Canto de Cordel. Os três filhos de Zé de Cazuza prestigiaram a solenidade, além de Miguel Marcondes, também Felizardo Moura e Antenor Cazuza. Docentes de vários Centros da UFPB compareceram, entre os quais o Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), o Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA), o Centro de Ciências Aplicadas e Educação (CCAE), representado pela Vice-diretora, Fernanda Marques, e o Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN), Centro do qual participaram o Diretor, professor José Roberto Soares, e o Vice-diretor, professor Mário Ugulino. 

De acordo com a Vice-reitora, professora Liana Filgueira, esse título é um reconhecimento ao poeta Zé de Cazuza, que marca e eterniza o olhar da UFPB para a importância da arte e da cultura da Paraíba. Ela parabenizou o professor Gilmar Leite pela iniciativa da propositura. “Extremamente importante o olhar de sensibilidade dele para o senhor Zé de Cazuza, que é uma memória viva dentro da Paraíba, trazendo poesias centenárias apenas com a sua memória, podendo repassar às gerações seguintes esse conhecimento que, muitas vezes, perde-se lá no Sertão da Paraíba. E que outros poetas, outros artistas com seus talentos, com sua grandiosidade e criatividade também possam ser reconhecidos por esta Universidade”, assevera a Vice-reitora.

O Reitor Valdiney Gouveia, que saudou Zé de Cazuza na sua chegada à UFPB, explicou que Zé de Cazuza representa não só a arte paraibana, mas a arte brasileira, e é uma honra para a UFPB conceder esse título a ele. “O grande poeta Zé de Cazuza é um nome espetacular, uma pessoa que ao você conversar com ele por três minutos se apaixona, por tudo que ele faz, fez e expressa, porque você vê que ali tem pura arte e pura emoção. Esse título Doutor Honoris Causa está em boas mãos”, assegura o Reitor.

Para Miguel Marcondes, filho de Zé de Cazuza, ser poeta repentista não é um privilégio, é uma missão. Além disso, ele entende que a poesia fecunda de Zé de Cazuza, uma grande referência para outros poetas, é uma riqueza cultural que merece ser preservada. “Meu pai, muito cuidadoso com o repente, inclusive em debater as cantorias. Eu me lembro que ele chegava, às vezes, e eu ficava escutando, ele no terreiro, com os cantadores, debatendo os versos que aconteceram na cantoria, e ele com muita habilidade e o respeito que os cantadores tinham por ele, pelo conhecimento que ele evocava pra dentro da cantoria, além de fazer o repente, também decorar, com o juízo gravador que ele tem”, conta Miguel Marcondes.  

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Texto: Aline Lins
Fotos: Angélica Gouveia/David Kevin/Aline Lins
Ascom/UFPB